São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Viagem reduz desgaste interno

GILBERTO DIMENSTEIN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Ao valorizar sua imagem internacionalmente com a viagem aos Estados Unidos, encerrada ontem, o presidente Fernando Henrique Cardoso buscou aliados para enfrentar as desconfianças dos investidores, mas também ganhar fôlego diante da opinião pública brasileira e do Congresso.
A estratégia de marketing da visita aos Estados Unidos levou em conta um efeito exclusivamente doméstico -valorizar a imagem do presidente, afetada por derrotas no Congresso e ruidosos ataques de manifestantes.
A mensagem que Fernando Henrique Cardoso gostaria de ver entendida em português pelos brasileiros e, especialmente, pelo Congresso: a nação mais rica do mundo está disposta a ajudá-lo e abrir portas ao desenvolvimento.
O presidente Bill Clinton conferiu-lhe status de principal liderança da América Latina.
Chegou até mesmo, em muitos momentos, a superar o esforço de sedução que, na década de 70, o então presidente Richard Nixon lançou ao Brasil, ao receber Emílio Garrastazu Médici. Um esforço que, na época, deslanchou uma onda de ciumeira na região. "Não podia ser melhor", disse Fernando Henrique.
Na entrevista coletiva ontem, momentos antes de embarcar, Fernando Henrique exalava satisfação, com a recepcão promovida pelo governo americano. Na sua assessoria, apostava-se no reconhecimento da opinião pública doméstico de que, em suma, teríamos no Brasil um "estadista".
Sinais externos
Ao longo da semana, administravam-se os sinais externos. Para fora, o esforço era de que o Brasil pouco teria a ver com o México, vitimado pela crise da falta de recursos externos para saldar sua dívida. E, para dentro, a mensagem de que o Brasil necessitaria urgentemente se remodelar caso queira obter investimentos.
Remodelar significa, na visão de Fernando Henrique, uma reforma constitucional capaz de redefinir o papel do Estado e garantindo estabilidade econômica.
Fernando Henrique ouviu, por várias vezes, a idéia de que não fosse pela estabilidade gerada pelo Plano Real seu prestígio nessa visita seria reduzido. Não geraria o interesse dos investidores nem a disposição de governo dos Estados Unidos em apresentá-lo como "parceiro".
Simultâneo aos elogios, vinham sempre as preocupações sobre até onde se conseguiria manter essa estabilidade sem medidas complementares. Bill Clinton entronizou nos seus discursos o tema da reforma constitucional brasileira, sabendo das dificuldades enfrentadas por Fernando Henrique.
Nas conversas reservadas, Fernando Henrique admitiu as dificuldades, reclamou de sua base no Congresso. Daí ter cunhado a frase que agradou os americanos sobre sua diferença com Clinton. "Eu tenho a meu favor uma maioria desorganizada e Clinton tem contra ele uma maioria organizada". O que, segundo comentou o ministro da Justiça, Nelson Jobim, "acaba dando na mesma".
Publicamente, Fernando preferiu enfatizar que, num regime democrático, as decisões demoram e devem passar por um longo processo de negociação. "Vocês sabem como é difícil obter uma aprovação no Congresso dos Estados", disse Fernando Henrique a repórteres estrangeiros, tentando salvar a face dos deputados e senadores.
Na prática, sua decisão é negociar com mais agressividade, entremeando os argumentos com a caneta que emprega, demite, faz empréstimo. A prioridade hoje de seu governo, enfatiza, é a reforma política, montando uma base de apoio na qual possa administrar.

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