São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Presidente é contra dividir estatal para privatização

DA SUCURSAL DO RIO

Para o presidente da Vale do Rio Doce, Francisco José Schettino, 58, um eventual desmembramento da empresa -uma das hipóteses para a privatização- tornaria "impossível" a manutenção dos atuais níveis de competitividade do grupo.
Mineiro, 33 anos na Vale, Schettino é desconfiado e não gosta de falar da privatização. Diz que não é assunto da sua alçada. Mas deixa entrever seu ponto de vista quando defende a preservação do conglomerado e diz: "Duvido que um grupo privado tivesse a coragem de abrir Carajás e fazer uma ferrovia".

Folha - A Vale tem fama de ser uma estatal modelo. Qual o segredo da empresa?
Francisco Schettino - Nós não temos grupos aqui. Tem estatal por aí que tem dois, três grupos. Sobe um e os outros ficam jogando casca de banana para ele escorregar. A diretoria da Vale é de empregados de carreira.
Além disso, nosso produto é quase todo voltado para exportação. 80% do nosso faturamento é em dólar, o que exige que você seja competitivo.
Folha - Como funciona a logística que torna a empresa competitiva exportando minério de ferro para regiões mais próximas a outros grandes produtores, como a Austrália?
Schettino - O minério de ferro é o nosso carro-chefe. Dominamos cerca de 25% do mercado transoceânico de minério. Por que? Nós temos domínio total da mineração, da ferrovia e porto e empresas de navegação. Então, podemos entregar o minério pelo preço combinado, com segurança. São poucas as empresas de mineração que têm isso. Temos uma escala de produção muito grande e a qualidade do nosso minério ajuda.
Folha - É possível separar o grupo e manter a competitividade?
Schettino - Na nossa escala, é impossível. Você poderia fazer aí com seis ou sete milhões de toneladas, mas para chegar a cem milhões é impossível.
Folha - A Vale é acusada de ser excessivamente subordinada aos interesses do seu maior cliente, o Japão. Como o sr. responde a isso?
Schettino - No minério de ferro, isso não é verdade. O pessoal confunde um pouco o caso da Albrás (associação da Vale com japoneses para fazer alumínio). Quando o japonês escolheu o Brasil para ser seu braço externo na produção de alumínio, foi por quê? Porque era mais vantagem para ele. O Brasil oferecia energia elétrica barata. Então, não pode agora querer mudar.
Folha - As reservas da Vale de alguns minérios são para mais de 400 anos de exploração, e pela lei brasileira, uma vez descoberta a mina o concessionário tem direito de explorar até a sua exaustão. Como o sr. vê isso?
Schettino - Vai ser o maior problema político da privatização. Tem que ser estudado e o governo está estudando. A grande preocupação da privatização é exatamente esse item, que é o mais polêmico de todos.
Folha - Seria possível, por exemplo, estabelecer prazos para a privatização, como se faz no setor elétrico?
Schettino - Poderia, mas como ficaria o acionista da Vale? Ele é dono da Vale com o que ela tem.

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