São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Comerciantes confessam planejamento de crime

ARF
DA REPORTAGEM LOCAL

Os seis acusados de matar quatro garotos de rua em Suzano têm um perfil que os diferencia da maioria dos criminosos.
Três são comerciantes, donos de pequenos negócios -um deles tinha passagens pela polícia. Outros dois trabalhavam para um dos comerciantes. O último fazia entregas com sua Kombi.
Em 16 de março, em uma estação abandonada da Sabesp, três homens mataram a tiros três meninos: Romério Silva Alves, 16, André César Valdo, 14, e João Henrique Silva de Oliveira, 15.
F.S.M., 13, levou um tiro, mas sobreviveu. M.S.F., 16, escapou ileso e foi a principal testemunha para a identificação dos suspeitos.
Outro menino, Ricardo Lins de Oliveira, 15, foi morto por enforcamento na mesma noite e teve seu corpo queimado com gasolina.
Segundo M.S.F., todos eram viciados em crack e praticavam furtos para conseguir dinheiro para comprar a droga.
Os acusados
Dois dos acusados confessaram ter atirado nos garotos. Um diz que acompanhou a chacina, mas não atirou. Outro afirma que sabia dos planos para matar os meninos, mas não participou. Os dois últimos negam envolvimento.
Conheça os acusados e o que cada um deles disse à polícia:
1) Hélio Ferreira Alves, 25, dono de bar, com renda de R$ 400 mensais. Foi reconhecido como um dos atiradores. Em depoimento, disse que acompanhou a chacina, mas que não atirou. Segundo ele, os meninos faziam muitos furtos. Dois dias antes da chacina, teriam furtado o depósito de materiais de construção de seu cunhado. Revoltados, os comerciantes teriam se reunido e decidido matar os garotos.
2) Francisco José Drudi, 21, dono de padaria, renda mensal de R$ 1.000. Acusado de planejar a morte dos garotos e de ajudar a enforcar Ricardo em seu estabelecimento. Disse que sua padaria tinha sido furtada pelos meninos no ano passado. Afirmou que os garotos fizeram mais furtos na região e que sabia dos planos dos outros comerciantes de matá-los, mas negou envolvimento.
3) Paulo Sérgio dos Santos Reis, 22, mecânico, dono de oficina, renda mensal de R$ 800 mensais. Único com passagens pela polícia -por furto, porte ilegal de arma e falta de carteira de habilitação. Acusado de ser um dos atiradores e de ajudar a queimar o corpo de Ricardo. Disse que os meninos faziam muitos furtos. Afirmou que na noite do crime comprou uma bermuda furtada pelos garotos por R$ 3 e um refrigerante. Afirmou que ficou bebendo uísque em frente a padaria, diz ter sido chamado de última hora para matar os garotos e que concordou.
4) Carlos Augusto da Silva, 22, mecânico, fazia entregas com sua Kombi. Renda de R$ 750 mensais. É acusado de planejar a chacina e levar o corpo de Ricardo para ser queimado. Nega. Disse que estava no local, mas que foi embora antes da chacina.
5) Edilson Pinto da Silva, 24, o "Baianinho", mecânico, trabalhava na oficina de Reis, renda não-declarada. Disse em um primeiro depoimento que atirou nos meninos, participou do enforcamento de Ricardo e ajudou a queimar o corpo. Depois, voltou atrás e disse que só fala perante o juiz.
6) George Hamilton Mendonça da Silva, 24, mecânico, trabalhava na oficina de Reis, com ganhos de R$ 300. Acusado de espancar Ricardo enquanto ele era enforcado. Afirmou que viu o garoto na padaria, mas que não participou de sua morte.

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