São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ex-supermulher troca tailleur por avental

CAROLINA CHAGAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Cansadas de vestir o uniforme de supermulher (que cumpre todos os dias a jornada dupla -de profissional e rainha do lar) as mulheres estão voltando para casa.
Segundo uma pesquisa publicada em março no "The Wall Street Journal", em 1994, a porcentagem de mulheres que trabalha fora de casa nos EUA caiu de 57,4% para 37,3%.
A mesma pesquisa mostra que a maioria das 'dissidentes' está entre os 30 e 40 anos e geralmente já tem um ou dois filhos quando toma a decisão.
A relações públicas Elisabeth Aden, 32, confirma as estatísticas norte-americanas.
Depois de gerenciar por oito anos o departamento de recursos humanos de um banco norte-americano em São Paulo, ela voltou a morar com o marido em Boston no começo de 94.
"Cansei de viver na ponte-aérea e resolvi assumir meu lado dona-de-casa", diz. Os novos planos de Elisabeth, que hoje arruma a casa, faz o supermercado e cozinha, incluem dois filhos e uma casa no campo com cavalos.
"Tem uma hora que você percebe que a vida é mais do que ter um bom salário, andar de carro do ano e ter de marcar hora para se divertir", diz.
Mãe tempo integral
Acompanhar o crescimento dos filhos Ana Lúcia e Roberto foi o que levou a psicóloga de adolescentes Regina Moraes, 33, a fechar seu consultório. "Estava curando os filhos dos outros, mas não conseguia ver os meus."
Quando cerrou as portas há quatro anos, ela calcula que seu faturamento mensal estava perto dos R$ 7 mil. "Apesar de poder comprar tudo o que as crianças queriam, eu vivia angustiada." Atualmente, ela vive da conta-conjunta que mantém com o marido e garante estar mais realizada. "Curtir a casa e os filhos tempo integral pode ser mais compensador do que o sucesso profissional", garante.
Nem os diplomas de comunicação da Universidade de Brasília, psicologia e sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e vários cursos de aperfeiçoamento nos EUA convenceram a astróloga Avelina Bren a encarar uma carreira fora de casa.
"Sempre gostei de estar em casa. A única vez tentei sair, me irritei muito em perder tempo com trânsito e problemas da cidade." Avelina que, antes de estudar astrologia se dedicou por mais de dez anos exclusivamente aos filhos, se diz feliz com sua opção.
"Fiz de minha casa um lugar agradável onde meus filhos sempre vão querer estar, mesmo depois de casados", justifica.
O nascimento do segundo filho e uma mudança de casa levaram a advogada Paula Vasconcelos Nardi, 40, a trocar "por acaso" os corredores do Fórum por um avental e a horta de seu sítio em Cotia. Na ocasião, ela estava com 30 anos e começava a se destacar na promotoria pública do estado. "Me envolvi tanto com a mudança e a estruturação do novo lar que quando vi tinham ido dois anos."
A melhora da qualidade de sua vida e do relacionamento com o marido fizeram com que ela continuasse em casa. "Passamos a transar mais, tivemos outro filho e meu marido virou uma pessoa mais tranquila e bem sucedida." Um estudo de duas Universidades norte-americanas publicado no jornal britânico "The Independent" mostra que a tranquilidade não é exclusividade do marido de Paula.
Homens que não competem profissionalmente com as esposas, segundo a pesquisa, recebem salários 20% mais altos do que os casados com mulheres que trabalham fora. "Não ficamos de olho no relógio, preocupados com o jantar, o supermercado e o nervosismo da mulher", afirma o empresário Ricardo Nardi, 45, marido de Paula. "Acabamos rendendo mais."

Texto Anterior: Fim da munição salva menino
Próximo Texto: Depoimento
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.