São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Depoimento

"Trabalhei onze anos como secretária executiva na Rhodia, ao mesmo tempo que estudava psicologia. Me casei nesse período.
Minha vida era boa. Levantava cedo todos os dias, pegava meu carro e ia trabalhar. Perto de me formar tive meu primeiro filho.
Naquela época ainda não se dava quatro meses de licença maternidade. Voltei a trabalhar mais ou menos um mês depois que le nasceu. Deixava o bebê em creches, com minha sogra. Ele morreu de uma hora para outra com 52 dias.
Engravidei de novo no ano seguinte. Voltei a trabalhar logo que a Ana Flávia nasceu. Minha filha ficava com a empregada, em creches ou com minha sogra.
Nessa época, comecei a ter problemas no casamento. Nós voltávamos muito tarde para casa, conversávamos pouco.
Comecei a ter um medo muito grande de perder minha filha. Então resolvi parar tudo e ficar com ela, cuidar da minha casa, investir mais no meu casamento. Hoje, ela tem 15 anos e, se tivesse de voltar atrás faria tudo de novo.
No começo foi difícil desacostumar da rotina de trabalho, não ganhar meu dinheiro. Sinto que valeu a pena quando ouço ela me dizer que sou sua melhor amiga.
Não vi ela começar a andar. Mas lembro do dia em que ela entrou pela primeira vez na piscina, da primeira vez que ela vestiu uma sapatilha de balé.
Não tenho medo do dia em que ela for embora. Apesar de não trabalhar sempre tive minhas atividades. Não me sinto abandonada quando ela viaja com as amigas.
Sempre que começo a sentir uma ponta de frustração arrumo mais coisa para fazer, ou coloco a Ana Flávia em outro curso que eu tenha de levar e buscar e passa.
Meu marido arca bem com as despesas. Temos casa própria, um apartamento na praia e o carro do ano. Vivemos bem."
Gislene Bettoen Giroldo, 43, é dona-de-casa.

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