São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Rapaz de classe média mata mãe e dois filhos

Ele diz que intenção era roubar para pagar dívida

DA REPORTAGEM LOCAL

O comerciante Luciano Crus, 20, e sua irmã, F.C., 16, moravam em um bairro de classe média em Atibaia (65 km de São Paulo). Seu padrasto tem uma pequena empresa de prestação de serviços de construção civil. A mãe é dona de um restaurante.
Crus terminou o 2º grau. Pretendia estudar Direito e trabalhar como investigador de polícia. Tinha montado uma pequena empresa de revenda de frutas. A irmã estava na 2ª série do 2º grau.
Os dois confessaram serem os autores da chacina de Atibaia, de 24 de março, onde três pessoas de uma mesma família foram mortas. As vítimas eram a mulher e os filhos de Carlos Roberto de Souza, sócio do padastro de Crus.
Preso na delegacia de Atibaia, ele contou à Folha como matou a família para roubar dois carros, um fax e um computador.
Crus chegou à casa da família Souza às 11h30, com a irmã. Pediu a Sandro, 16, que imprimisse algo no computador. Pelas costas, enforcou o rapaz por três minutos.
Chamou a mãe, Edna Aguiar de Souza, e enquanto ela acudia o filho, a enforcou também. "Estava arrependido, chorava, mas não tinha mais como parar", diz.
Ele e a irmã empurraram os corpos para debaixo das camas. Crus voltou à casa às 19h para esperar o outro filho, Carlos Emar de Souza. O pai da família estava trabalhando em São Paulo.
Crus entrou na casa com Carlos, que chegava do trabalho. Encontraram a mãe ainda agonizante. Crus disse a Carlos que ela tinha sido vítima de traficantes para quem Carlos devia dinheiro.
Os dois colocaram a mulher na Kombi de Carlos para levá-la ao hospital. Na rodovia dom Pedro 1º, Crus desceu da Kombi, discutiu com Carlos e o matou com um tiro pelas costas. O comerciante voltou para o carro e jogou o corpo da mulher em um matagal.
Crus não chegou a roubar nada. Diz que precisava pagar uma dívida de R$ 2 mil e queria comprar um ônibus para montar uma empresa de excursões.
O comerciante não foi preso. Procurou o pai em São Paulo, contou tudo e acabou se entregando à polícia.
Preso, mudou seu depoimento. Disse que foi pressionado a confessar a autoria dos crimes, que teriam sido cometidos por outras pessoas.
Uma delas seria um investigador acusado de envolvimento numa quadrilha de policiais de Atibaia. Outra seria um fornecedor de drogas para Carlos de Souza, que já havia sido preso.
Mudou o depoimento outras três vezes. No último, em 17 de abril, voltou a confessar o crime, confirmado pela irmã.
Crus não consegue explicar por que pensou em matar para conseguir dinheiro. Parece preocupado em proteger a irmã e o policial que acusara antes.
Os pais de Crus ainda acreditam que ele está acobertando alguém. Sua mãe, que mudou da cidade assim como o pai das vítimas, o visita na cadeia e lhe deu um livro sobre espiritismo.
Crus vê TV na cela (é de um dos presos). Diz ser bem tratado. "Estou conformado em ter que cumprir minha pena." A irmã está sob custódia da mãe.

Texto Anterior: Caso é resolvido em 28 dias com ajuda de garoto
Próximo Texto: Procuradores da 'Mãos Limpas' vêm a SP
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.