São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Procuradores da 'Mãos Limpas' vêm a SP

FERNANDA CAMPANELLI
DA REDAÇÃO

Chegam amanhã a São Paulo quatro procuradores do Ministério Público de Milão que participam da operação "Mãos Limpas" de combate à corrupção na Itália.
Gherardo Colombo, Francesco Saverio Borrelli, Piercamillo Davigo e Francesco Greco ficam no Brasil até o dia 28 de abril.
Eles farão uma palestra para empresários no dia 26 e participam de mesa redonda no dia 27 no hotel Maksoud Plaza. Após dois dias em Buenos Aires (Argentina), voltam ao Rio em 2 de maio.
Com a saída de Antonio Di Pietro, o mais famoso da integrante da equipe (que se desligou do Ministério Público em 3 de abril), Colombo, 49, é o novo símbolo da luta contra a corrupção na Itália.
Ele já visitou o Rio de Janeiro como turista e, em 94, veio fazer palestras e participar de encontros em São Paulo, Paraná e Brasília.
"Não conheço a fundo os problemas brasileiros, mas posso afirmar que o interesse pelo nosso trabalho mostra que o país está preocupado com a corrupção e principalmente querendo mudar sua imagem. Vamos falar sobre a nossa legislação, além das dificuldades e êxitos alcançados durante os processos", diz Colombo.
A grande investida contra a corrupção italiana só ocorreu em 1988, depois de uma modificação no Código de Processo Penal.
A independência e total autonomia do Ministério Público foram fundamentais para que as investigações fossem levadas diante e os acusados processados.
"A liberdade de trabalho é a nossa principal arma no combate ao crime organizado. O Ministério Público pode determinar a quebra de sigilo bancário e autorizar a escuta telefônica."
Os membros do Ministério Público também não podem ter passado por cargos políticos. "Graças à nossa administração, Antonio Di Pietro, Gherardo Colombo e demais membros puderam gozar de total liberdade e apoio", diz o prefeito de Milão, Marco Formentini.
Desde o início da operação já foram recuperados US$ 29 bilhões depositados em juízo. Retornaram aos cofres do governo italiano cerca de US$ 18 bilhões.
Mais de 2.497 processos estão em operação, dos quais 26 foram arquivados por falta de prova, morte e prescrição. Passaram pelas mãos de Colombo, sonegação fiscal, corrupção ativa e remessa ilegal de divisas. A operação deve continuar por mais dois anos.
Na lista de acusados estão os ex-primeiros-ministros Giulio Andreotti e Bettino Craxi. Um dos suspeitos é o ex-primeiro-ministro e empresário Silvio Berlusconi, que renunciou em dezembro.
No Brasil, um grupo de promotores criou uma comissão contra o crime organizado baseada na experiência italiana.

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