São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Margem de manobra para conter consumo é restrita

JOSÉ ROBERTO CAMPOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Se o consumo transita para um patamar mais equilibrado e próximo ao de 94, nem por isto ele deixa de incomodar o governo.
Como está agora -e como queria a equipe econômica escolhida pelo então ministro Fernando Henrique quando se lançou à candidatura presidencial- a economia passou a funcionar bem com um nível de importações maior que o de anos passados.
Para não perder suas reservas internacionais, a equipe quer abater as importações e impulsionar as exportações. Estes objetivos, para serem conseguidos rapidamente, necessitam de um freio nas atividades econômicas.
"Estamos em uma fase de transição e nos próximos meses já não haverá aumento das taxas de crescimento", avalia Flávio Nolasco, economista-chefe da Brasilpar. "Não acredito mais em uma expansão explosiva."
Nolasco, entretanto, observa que o ritmo de redução do crescimento ainda é claramente incompatível com os objetivos do governo. "Com o consumo atual, não há como as empresas deslocarem parte da produção para o mercado externo sem perder fatias de participação no mercado interno", diz.
Sem interferência do governo, a equação se resolveria da maneira clássica -com aumento da inflação. Ela retira poder de compra dos assalariados e este fator explica em parte o arrefecimento recente do fôlego das compras. Seus efeitos sobre o Plano Real, entretanto, seriam mortais.
"O grande dilema da equipe econômica é se a redução do consumo virá por meio de política econômica com menos inflação e manutenção da taxa de investimentos ou com subida de preços", resume Nolasco.
A margem de atuação da equipe econômica para esfriar a economia é muito restrita, calcula o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega, da consultoria MCM. "Não há nada que possa ser feito que tenha grande impacto", comenta.
Novas doses de aumento de juros trariam poucos resultados sobre as decisões dos consumidores mas seriam contraproducentes ao inibir investimentos para a ampliação da oferta e contribuiriam para aumentar custos de produção e pressionar os preços, segundo ele.
Com novas medidas, o governo pode tentar tapar os buracos encontrados pelo sistema financeiro e empresas para fugir às limitações da concessão de crédito. Entre eles, o ex-ministro exemplifica, a emissão de "commercial papers" (notas promissórias) ou debêntures (títulos de longo prazo emitidos por empresas) para obter capital de giro e financiar os consumidores. "Seu alcance seria limitado porque boa parte das empresas continua oferecendo crédito com recursos próprios", pondera.
"O monitoramento do controle do crédito é extremamente difícil de funcionar", concorda José Guilherme dos Reis, chefe do Departamento Econômico da CNI. Para o economista, o governo deveria dirigir sua ação menos para a política monetária e mais para a fiscal.
Os obstáculos para isto também são grandes, afirma Mailson. Para ele, ampliar o corte de gastos do governo além do que vem sendo tentado beira o inexequível.
É possível melhorar a performance das despesas públicas através de um velho expediente, conhecido por ministros da Fazenda -controlar a saída de dinheiro na "boca do caixa". Isto é, reduzir arbitrariamente os desembolsos para diminuir ou evitar déficits e, como diz o ex-ministro, "resistir a pressões fisiológicas por gastos".
Outra alternativa, limitada por restrições constitucionais, seria o aumento da tributação. Por esta via, o governo encontraria dificuldades entre os congressistas para aprovar a legislação e sofreria, segundo Mailson, uma enxurrada de contestações judiciais.
Finalmente, restaria ao governo travar uma luta "corpo a corpo" contra aumento de preços, como a que vem sendo realizada pela Secretaria de Acompanhamento Econômico -convocação de empresários de setores chaves da indústria para refrear reajustes.
"É preciso que o governo tenha paciência, espere um pouco mais e monitore atentamente a economia", conclui Mailson.

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