São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Lucro de empresas mexicanas sofre queda de 85,4% durante 94

FLAVIO CASTELLOTTI
DA CIDADE DO MÉXICO

O lucro líquido das 77 principais empresas mexicanas com ações em Bolsa caiu 85,4% durante 1994, apesar da melhora em seu desempenho operacional.
Esse é o resultado do estudo realizado pelo grupo financeiro Inverméxico. A receita de vendas do conjunto de empresas analisadas subiu 10,86% no ano passado.
O lucro operacional também cresceu -em 14%. Fica claro, portanto, que os baixos níveis de lucro têm raízes na desvalorização cambial.
Os aumentos das despesas financeiras e dos custos de financiamento, gerados pela desvalorização, foram as principais causas da queda dos lucros.
Devido a taxas de juros mais baixas oferecidas pelos bancos norte-americanos, muitas empresas mexicanas haviam assumido dívidas em dólares.
Essas empresas viram seu passivo duplicar em 1994, pois, após várias intervenções, em dezembro o Banco Central perdeu definitivamente o controle sobre o câmbio e a valorização do dólar em relação ao peso chegou a 100% em 15 de março. Hoje está em 80%.
Os empresários pedem ao presidente Ernesto Zedillo a elaboração de uma política industrial de longo prazo.
"No momento, não há nenhum investimento industrial tão interessante quanto as taxas de juros", afirmou o presidente nacional da Canacintra (câmara patronal mexicana), Victor Terrones.
Os juros dos títulos emitidos pelo Tesouro mexicano, os Cetes, fecharam a semana em 77%, em média. Enquanto a taxa interbancária está em 90%.
A Canacintra do Estado de Puebla advertiu também para a possibilidade de quebra de várias empresas mexicanas, sobretudo pequenas e médias.
"Em Puebla, metade das empresas está operando com mais de 60% de capacidade ociosa", disse o presidente da associação.
Análise setorial
Segundo o estudo do grupo Inverméxico, a margem operacional das 77 empresas analisadas cresceu 48,5% em relação a 1993. No mesmo período, a queda da margem líquida foi de 82,8%.
O setor de bebidas foi o mais afetado pela crise financeira mexicana, com queda de 87% no lucro.
Mesmo com um incremento de 14,7% em suas receitas, a empresa Argos, uma das maiores engarrafadoras do país, teve queda de 80,5% no lucro líquido.
No setor comercial as cadeias de lojas de departamentos foram as mais atingidas. Em média, a diminuição do lucro líquido foi de 82,4%. Mas o lucro operacional também caiu (28,7%).
O setor de construção civil registrou queda de 75,4% nos lucros, apesar de um incremento de 15% no lucro operacional.
O lucro do grupo Ica, maior holding mexicana do setor, diminuiu 90,3%, embora seu resultado operacional tenha aumentado 8,1%. Contudo, fechou o ano com margem líquida positiva de 0,07%.
O maior grupo de telecomunicações mexicano, Televisa, registrou lucro 37,7% menor do que em 1993, mesmo com aumento de 0,6% nas vendas, que foram de aproximadamente US$ 1 bilhão.
O setor foi um dos menos afetados pela desvalorização do peso. Em média, as empresas de telecomunicações registraram queda de 33,7% no lucro.

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