São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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É hora de a MPB explodir

LUÍS NASSIF

O sucesso da homenagem a Tom Jobim, em Nova York, confirma o que esta coluna vem repisando há tempos. A música popular brasileira é, de longe, o melhor produto diplomático e de exportação do país. Falta transformar-se definitivamente em um produto de valor econômico. A homenagem gerou mais centimetragem na imprensa americana do que o restante da viagem presidencial.
Não há nenhum outro produto brasileiro, com exceção do futebol, que tenha a penetração da MPB. Mas sua explosão definitiva no mundo, como instrumento diplomático e produto econômico, esbarra ainda em algumas inconsistências, que poderiam ser sanadas através do trabalho sistemático no âmbito, quem sabe, de uma câmara setorial.
A primeira perna falha do modelo são os produtores culturais. Em geral, pessoas bem intencionadas, com boa imaginação, mas gerencialmente amadores e ainda distantes dos padrões internacionais de qualidade. As produções independentes são basicamente descuidadas.
A segunda perna falha é a da indústria fonográfica, conduzida por amadores com recursos, mas sem nenhuma imaginação e vivência internacional.
A terceira perna falha é o Itamaraty. Com raras exceções, os departamentos culturais das embaixadas têm visão burocrática de suas funções. Vez por outra organizam excursões internacionais com artistas nacionais, mas repletas de amadorismo e descuido.
A quarta perna falha é a ação de governo, através do Ministério da Cultura, cujas únicas iniciativas, ao longo dos anos, têm consistido em tratamento paternalista aos intelectuais de salão, politicamente mais barulhentos. Investe-se em cinema e teatro, mesmo sendo manifestações artísticas nas quais o país não têm a menor expressão.
Iniciativas isoladas
Sem estrutura profissional, a penetração da MPB no exterior fica na dependência de iniciativas isoladas de produtores internacionais, que têm montado selos independentes com nossos artistas.
Trata-se obviamente de grosso desperdício, que poderia ser sanado com um mínimo de coordenação -provavelmente pelo Ministério da Indústria, Comércio e Turismo.
O primeiro passo seria providenciar um amplo estudo sobre os aspectos econômicos e comerciais da indústria fonográfica mundial. Esse estudo serviria de base para um seminário, onde se procuraria juntar produtores culturais e investidores -capazes de provê-los de capital e gerência.
Como nenhum produtor cultural conseguirá, individualmente, montar sua estrutura de distribuição e promoção internacional, esses estudos poderiam resultar na montagem de uma grande empresa cooperada -financiada e gerida pelos investidores privados- incumbida de comercializar, sob um mesmo selo Brasil, produções de várias procedências.
O país dispõe, hoje em dia, da melhor escola de violão do planeta, da música popular mais sofisticada (bossa nova e MPB), da música instrumental mais dinâmica (chorinho, apesar do desconhecimento da mídia), da música jovem mais dinâmica (as diversas variações da música baiana), de uma multiplicidade única de manifestações regionais.
Iniciativa dessa ordem não teria erro.

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