São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995 |
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Brasileiros lideram retirada de investimentos do país
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
Há pelo menos dois importantes fatores que continuam desestimulando esses investimentos. O primeiro: os bancos que operam com recursos de brasileiros são os que mais tiraram dinheiro do país. É possível que brasileiros apliquem dinheiro no Brasil como se fossem investidores estrangeiros. Basta ter dinheiro lá fora e lá comprar cotas de um fundo de investimento autorizado a operar no Brasil. A aplicação fica anônima. Operadores do mercado financeiro sabem identificar os bancos que tradicionalmente movimentam dinheiro de brasileiros. E é claro que essa informação chega aos diretores de fundos estrangeiros. Seu raciocínio, então, é claro: se os brasileiros, que conhecem melhor seu país, estão tirando dinheiro, o negócio é sair também. Há precedentes. Na crise do México, os mexicanos foram mais rápidos em tirar dinheiro do país. Outro fator de desconfiança que permanece na cabeça dos investidores estrangeiros é a demora do governo FHC em privatizar e fazer reformas estruturais na economia. No caso das privatizações, por exemplo, investidores estrangeiros compraram pesadamente ações de estatais privatizáveis. E ficam em dúvida diante de declarações confusas de autoridades do governo a respeito dessas privatizações. Na falta de programas mais explícitos e com a queda do valor das ações, não há qualquer estímulo para a entrada de novos investimentos. E há estímulos de saída. Nesse ambiente, a reafirmação do presidente sobre as reformas foi bem recebida. Mas comenta-se que FHC provou continuar bom de discurso e continua devendo provas de bom de ação. Em todo caso, especialistas na área consideram que deve haver logo um equilíbrio entre entrada e saída de dólares. E isso significaria que o pessoal está à espera. Um indício: muitos fundos de investimento estrangeiros mantêm abertas suas contas no Brasil e pagam por isso. Mas não fazem depósitos. Outro fator que inibe investimentos é a persistência do debate sobre uma desvalorização do real. Todas as autoridades da área econômica dizem que a atual faixa de variação do dólar, de R$ 0,88 a R$ 0,93, vai durar muito tempo. Mas todo mundo sabe que um ministro poderoso como Serra defendia uma desvalorização mais forte. Essa percepção das diferenças dentro da equipe econômica continua sendo um fator inibidor. E isso só desempata com atos efetivos do governo. É o que o pessoal espera. Texto Anterior: Bancos públicos: solução concreta Próximo Texto: Saída é maior em janeiro e março Índice |
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