São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995 |
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Era de ditadores africanos está próxima do fim The Independent RICHARD DOWDEN
Ele proíbe todos os partidos políticos, menos o seu. Frauda eleições. Destitui tribunais de seus poderes. Reduz imprensa ao silêncio. Seu culto equaciona seu bem-estar pessoal com o bem-estar do Estado. Seu governo tem um grande objetivo, que passa por cima de todos os outros: perpetuar seu reinado de Grande Homem". Mas os tiranos africanos estão começando a escassear, como os rinocerontes. De alguns anos para cá, os assassinos foram substituídos por tecnocratas, dirigentes democraticamente eleitos ou ditadores mais discretos. Durante a Guerra Fria, os tiranos eram tolerados ou mesmo protegidos por governos do Ocidente ou do Leste. Hoje, a política africana é mais aberta e os governos africanos têm menos poder. Em certo sentido, toda a primeira geração de governantes africanos foi composta de ditadores. Apenas dois deles passaram o cargo para outro com cortesia. Alguns ainda estão presentes, tendo sobrevivido à onda de eleições democráticas e às guerras do início da década de 90. Entre os sobreviventes figuram Gnassingbe Eyadema, do Togo, e Mobutu Sese Seko, do Zaire. No Malaui, Hastings Kamuzu Banda, que se encaixa exatamente no perfil do ditador típico, está sendo julgado e enfrenta uma possível condenação à morte. Outros, como Siad Barre, da Somália, morreram no exílio. Ian Smith, da Rodésia, e P.W. Botha, da África do Sul, vivem uma aposentadoria pacífica. O candidato a ditador Daniel Arap Moi (Quênia) se vê constrangido por seus aliados ocidentais a seguir as normas da democracia. E o mundo foi poupado -até agora- das ditaduras de um presidente Jonas Savimbi, em Angola, ou de um chefe Mangosuthu Buthelezi, na África do Sul. O mais espalhafatoso dos tiranos africanos foi Idi Amin Dada, o ex-sargento semi-analfabeto que afundou Uganda, entre 71 e 79. Ele foi expulso pelo Exército tanzaniano e fugiu para a Líbia. A Arábia Saudita ofereceu refúgio em Jidá a esse muçulmano errante. Embora Amin tivesse a imagem do selvagem, seu predecessor e sucessor, Milton Obote, matou mais pessoas e causou mais destruição. Seu segundo governo terminou em 1986 e hoje ele vive no Zâmbia. Jean-Bedel Bokassa, da República Centro-Africana, que comia pessoas e se coroou imperador, hoje é um cidadão comum. Depois de sua derrocada em 79, morou na França até voltar a seu país. Foi preso e julgado. Livrou-se da pena de morte para cumprir prisão perpétua. Foi solto em 1994. Hoje, Bokassa se proclama o 13º apóstolo de Cristo. O mais perigoso de todos foi Mengistu Haile Mariam, que governou a Etiópia de 1976 até 1991. Milhares de opositores foram mortos. Em maio de 1991 obteve asilo político no Zimbábue. A era dos ditadores na África ficou para trás, mas a tirania não deixou de existir. Os sonhos promovidos pelos sucessores, os banqueiros e doadores de assistência, talvez sejam irreais. Em todo caso, são bem menos coloridos. Tradução de Clara Allain Texto Anterior: Menem muda campanha para evitar segundo turno Próximo Texto: Cidade vira 'febre' turística Índice |
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