São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Foi bom

GILBERTO DIMENSTEIN

WASHINGTON - O governo vai derramar adjetivos sobre os efeitos da viagem aos Estados Unidos, prevendo resultados gigantescos e espetaculares. Setores da oposição do tipo Lula vão acusar Fernando Henrique Cardoso de vender o Brasil a Bill Clinton, tamanha a troca de elogios e juras de amor. A verdade: nem haverá efeitos monumentais nem se descuidou em qualquer momento do interesse nacional.
Passados cinco dias de viagem, o presidente Fernando Henrique Cardoso leva de volta uma boa notícia -a visita foi um sucesso diplomático, capaz de significar mais confiança internacional no Brasil, tantos os sinais de confiança lançados pelo governo dos Estados Unidos. Traduzindo para o cidadão comum: possibilidade de mais investimentos estrangeiros. Logo, mais empregos.
Bobagem imaginar que vai jorrar dinheiro. O fato, entretanto, é que Clinton mandou o seguinte recado: nós confiamos no Brasil como um "parceiro confiável". É um bom sinal para quem tenta se diferenciar nessa onda de suspeita que atinge a América Latina depois da crise do México.
Só isso não basta. Os Estados Unidos viviam dizendo que o México era tão confiável que mereceria virar sócio minoritário. E aí está o resultado. Mais: Bill Clinton tem minoria no Congresso e seus braços estão atados.
O ponto: a viagem mostrou que os países desenvolvidos estão dispostos a apostar no Brasil, de olho num mercado promissor orientado pelo sistema democrático. Estão dispostos também a ver em Fernando Henrique a principal liderança da América Latina.
Essa confiança vai virar pó, caso o Brasil continue patinando em ondas de inflação e instabilidade -o que significa dinheiro que vai procurar outras nações. Ou seja, menos empregos e menos salários.
A viagem é um momento valioso para que voltemos a dar atenção ao óbvio: toda a potencialidade brasileira vale muito pouco se não operarmos uma reforma política, com partidos mais fortes e governos mais eficientes.
Volto a insistir na tese de que se dermos errado, agora, vamos ter dificuldade para explicar ao cidadão comum por que, com tantas condições favoráveis, a democracia fracassou para melhorar o nível de vida dos brasileiros.

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