São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Voando com pés no chão

COSETTE ALVES

Me abraçava às suas pernas, ele sempre trazia um pacotinho. Eu perguntava, o que é isso? Ele dizia: "É chouriço". É uma lembrança do sol, do calor do interior, do cheiro do meu pai, da relação familiar. Lembranças ruins: situações em que eu tentei me expressar e não consegui. Era tímido.
-Como você concilia sua identidade com tantos personagens que representa e com a imagem construída pela mídia?
-Sendo sincero. Quando se está fazendo uma comédia é tentador fazer rir a qualquer preço. Mas tento dominar e não ser dominado. Manter a personalidade acima do personagem.
Teatro
-Fale um pouco do "Capital Estrangeiro"
-Queria um personagem brasileiro, mas com o perfil meio safado. Aquele que quer ascensão social a qualquer preço. Não queria um texto com um julgamento moralista, mas uma comédia com visão crítica. Nunca tinha feito comédia em teatro. Eu já tinha tido experiências com Silvio de Abreu em cinco novelas. Ele tem uma amoralidade saudável, muito inteligente. Pedi para que escrevesse uma comédia. Com aquela pequena idéia que eu tinha ele escreveu, já traçando os perfis dos personagens. Ele nunca tinha escrito para teatro. Nesse encontro saímos todos ganhando: o teatro, o Silvio e eu.
-A peça teve retorno financeiro no Rio?
-Fez um grande sucesso no Rio e nas quatro cidades por onde passou. Eu reapliquei o dinheiro na reestréia em São Paulo. Reinvesti no espetáculo o que ganhei como produtor.
-Fale um pouco de você como ator.
-Busco uma identidade, busco mostrar que um ator bonito pode ser inteligente e bom. Tem um arquétipo assim: gente bonita não pode ser inteligente. O essencial é minha relação com o público. Também busco reconhecimento da crítica. E quando sou criticado de maneira profunda e respeitosa, aceito. -Antecipe alguns projetos teatrais.
-Um deles é o "Dom Juan" de Molière. Pedi para o Millôr Fernandes traduzir. Pedi para a Bibi dirigir, mas como tinha a agenda cheia na época, adiei o projeto também. Aguardei com curiosidade a outra montagem que estava saindo, na visão do Otavio Frias Filho e com direção do Gerald Thomas. Que está aí, polêmica, e eu acho que tem que ser assim, ter muitas versões para tudo. Talvez daqui a pouco eu acorde com outra vontade. Procuro escutar os meus sonhos.

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