São Paulo, terça-feira, 25 de abril de 1995
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Quem consegue roubar US$ 500 bi?

GILBERTO DIMENSTEIN

WASHINGTON - Estamos acostumados a nos emocionar e indignar (e com razão) com a roubalheira que se infiltra nos governos -um presidente chegou a sair do Planalto acusado de corrupção. Um documento divulgado em Washington mostra que no Brasil muitíssimo pior e mais cara do que a ladroagem é a incompetência. Quase não há termos de comparação.
Estudo do FMI permite concluir que, por trás da série de desacertos cometidos no país, estaríamos perdendo até US$ 500 bilhões por ano. Nenhum corrupto, por mais eficiente e bem-articulado, conseguiria 1% dessa quantia.
O estudo compara Brasil e Coréia do Sul. Mostra como os países eram parecidos nas décadas de 60 e 70: tinham a mesma renda por habitante, taxa de crescimento similar, desenvolviam esforços para elevar exportações, sofreram com a mesma intensidade crises externas (choque do petróleo).
Ocorre que, na década de 80, a Coréia apostou num duro plano de estabilização dos preços e, depois do aperto, logo voltaria crescer a altas taxas. O Brasil patinou em pacotes atrás de pacotes, ministros atrás de ministros. Afugentou investimentos e estagnou.
A Coréia duplicou sua renda por habitante. Agora está em mais US$ 7.000, mais do que o dobro da brasileira. Atingiu o patamar de países como Grécia e Portugal.
Se pudéssemos duplicar nossa produção, já teríamos ultrapassado a economia de vários países como Canadá. Estaríamos pouco abaixo da França, Itália ou Inglaterra.
E, certamente, teríamos menos meninos de rua, mulheres dando a luz em pias de hospital. Certamente não consideraríamos um avanço pular do mísero salário mínimo de R$ 70 para o também míseros R$ 100.
PS - O documento não toca no assunto, mas a grande diferença entre os dois países não é apenas nas decisões econômicas. Nas décadas de 60 e 70, a Coréia investiu pesado em ensino básico, universalizando inclusive o segundo grau. Preparou, então, uma mão-de-obra qualificada para enfrentar a sofisticação tecnológica. Outra diferença reforça nossa incompetência: a Coréia vive em estado permanente de beligerância com seu vizinho, o que a obriga a se preocupar com invasões.

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