São Paulo, terça-feira, 25 de abril de 1995
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Oklahoma, Rio

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO - Dez dias de férias em Nova York servem, sobretudo, para renovar o espírito. Principalmente quando incluem a visão sempre comovente das "Demoiselles D'Avignon", uma viagem pelo mundo multicolorido de Kandinski (em belíssima retrospectiva no Museu de Arte Moderna, o MoMa, a cujo acervo, aliás, pertence o quadro de Picasso) e os retratos pioneiros de Nadar, um dos "inventores" da fotografia, em retrospectiva no Metropolitan Museum.
Mas não há como, em Nova York, escapar dos contrastes, das dúvidas, das inquietações. Na principal cidade do mundo tudo se amplifica e, por incrível que pareça, através de Manhattan Oklahoma e Rio de Janeiro são muito próximas. Até demais. Dois aspectos principais na tragédia de Oklahoma obrigaram o observador ocasional a fazer uma conexão com o Rio.
O primeiro foi a espetacularização da tragédia promovida pelas grandes redes de TV. Impossível não lembrar dos nossos "aqui e agora" e do "jornalismo virtual" que a Globo faz quando reconstitui crimes nas favelas ou cobre os intermináveis tiroteios e chacinas.
A diferença, brutal aliás, estava na qualidade da espetacularização. Câmaras lentas, repetições das imagens mais chocantes, o sangue brotando ali, ao vivo, interrompido apenas pelos glamour artificial do repórter vestido de Dona Karan.
Esse tipo de jornalismo predomina e choca. Pior: soa sempre artificial e inconsequente. Aqui como lá vale tudo e o limite é o céu da audiência.
O outro aspecto que fustiga a mente é o "link" entre o terrorista fanático que destrói ícones do mundo que não consegue dominar e o traficante que domina o morro do Rio ou promove chacinas de adolescentes em São Paulo. Sempre com vítimas, muitas.
São eles subprodutos, excrecências do processo de globalização e perda de identidade nas sociedades modernas?
Segundo o pessimista Hans Enzensberger, sim. Segundo o otimista Mario Vargas Llosa, provavelmente sim.
Violência, criminalidade, extremismo, terrorismo, diz Enzensberger, são o reflexo do colapso.
Llosa acha que vamos sair desta.
Com Oklahoma e Vigário Geral na cabeça, é difícil de acreditar nisso.

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