São Paulo, quarta-feira, 26 de abril de 1995
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Malan ataca 'catastrofistas ' e 'coveiros do Real'

O ministro da Fazenda, Pedro Malan, na reunião do FMI

GILBERTO DIMENSTEIN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Na sua entrevista mais agressiva desde que entrou no governo, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, atacou ontem, em Washington (EUA), onde participa da reunião do FMI (Fundo Monetário Internacional), os "coveiros do Real", "alarmistas de plantão" e "catastrofistas".
Num tom de desabafo, Malan fez essas críticas, sem citar nomes, ao anunciar a inflação de abril, de 1,92% -inferior, ressaltou, ao índice previsto por setores do mercado.
Segundo ele, também contrariando previsões do mercado, o índice de maio calculado pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), da Universidade de São Paulo, será ainda inferior ao de abril, já que estaria descontaminado dos aluguéis e, principalmente, mensalidades escolares.
"Existe um número excessivamente grande de coveiros do Real, que procuram antecipar o fracasso do plano. Eles estão em operação desde antes da introdução do plano", afirmou.
O ministro disse que os números estariam demonstrando na prática que os "coveiros" estão errados, já que muitas previsões publicadas desde o ano passado não teriam se confirmado.
Habitualmente contido e sempre escasso em adjetivos, Malan voltou ao ataque ao comentar que a inflação dos três primeiros meses é a menor dos últimos 25 anos.
"A despeito das cassandras (anunciadores de desgraças), alarmistas de plantão e dos catastrofistas, que estão em busca de declarações para antecipar o fracasso do plano, seremos bem-sucedidos", disse o ministro. Para ele, o Real "é o plano de estabilização mais bem-sucedido" já feito no país.
Malan procurou mostrar que as medidas de controle ao crédito foram recebidas sem sobressaltos e fazem parte de um projeto continuado de intervenções. "Isso é uma corrida de obstáculos, não de cem metros rasos", comparou.
Deixou entrever que o governo está preocupado com o que chama de "desintermediação" do sistema financeiro. Ou seja, com as restrições ao crédito, existiriam mecanismos de empréstimos paralelos aos bancos e fora do controle do BC (Banco Central).
O diretor de política bancária do Banco Central, Alkimar Moura, admitiu esse perigo, afirmando que o governo acompanha essa transferência de recursos.
Esses mecanismos seriam, por exemplo, as empresas de "factoring", que compram cheques pré-datados e duplicatas ou empréstimos entre empresas.
Alkimar afirmou que, nos próximos dias, já se conseguirá medir com mais precisão os efeitos das medidas de controle ao crédito, lançadas segunda, e saber se o BC vai apertar ainda mais ou afrouxar. "Vai depender do mercado".
Malan e Alkimar disseram não estar preocupados com eventual desinteresse pela poupança, cujo rendimento está ligado aos juros dos CDBs, limitados agora. Caindo esses juros, cairia, portanto, o rendimento, especula-se no mercado. "Não dá para saber ainda como vão se comportar os juros", afirmou o diretor do BC.
Malan comentou como um sinal positivo o anúncio, ontem, de que empresas como a Eletrobrás também entrariam na lista das privatizáveis. Tal iniciativa mostraria o compromisso do governo de reduzir o tamanho do Estado e equilibrar suas contas, condição para o sucesso do plano, afirmou.

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