São Paulo, quarta-feira, 26 de abril de 1995
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Guerra dos sexos

THALES DE MENEZES

Os diretores do All England Lawn Tennis Club, que organiza o Torneio de Wimbledon, anunciaram ontem os valores dos prêmios destinados aos tenistas na próxima edição do campeonato, em junho.
O total de prêmios chega a US$ 9,65 milhões, o que representa um aumento de 6% em relação a 94.
Mais do que toda essa bolada distribuída pelos ingleses, o que provoca grande discussão no meio tenístico é a manutenção de valores diferentes para a premiação de homens e de mulheres.
O campeão de 95 vai receber um cheque de aproximadamente US$ 587 mil, enquanto a campeã terá que se contentar com "apenas" US$ 527 mil. Essa diferença já foi maior -era de quase 50% nos anos 70- e foi sendo reduzida, chegando hoje ao que John Curry, presidente do clube , classifica de "diferença simbólica".
Antes de mais nada, ele chamar US$ 60 mil de "diferença simbólica" é dose. Em segundo lugar, uma declaração dessas só irrita mais os defensores de prêmios iguais para homens e mulheres.
A verdade é uma só: o tênis é machista e convive com a ladainha de que o jogo das mulheres é mais sem graça, mais "fraquinho" mesmo. Na década de 70, era uma verdade incontestável. A campeoníssima Chris Evert, que nunca teve os músculos dos braços muito desenvolvidos, era um expoente do "jogo de mocinha". A maioria das jogadoras se preocupavam mais em encaixar bolas "colocadas" do que bater com força.
Aí apareceu a atleta do século. Muito antes de assumir sua homossexualidade, Martina Navratilova já tinha incorporado um comentário constante a seu respeito: ser "a primeira tenista a bater na bolinha como um homem".
Para provar que não se tratava de um caso isolado, Martina foi seguida por uma legião de garotas com um canhão nos braços.
Exemplos? O saque da holandesa Brenda Schultz (sempre passando dos 170 km/h) e o golpe de direita da alemã Steffi Graf, o melhor forehand da história do tênis, seja feminino ou masculino.
O tênis é tão machista que o austríaco Thomas Muster disse que as mulheres mereciam ganhar os mesmos prêmios que os homens porque elas contribuem para "aumentar a beleza" nas quadras.
Uma grande amiga diz que gosta de tênis porque os jogadores têm pernas bonitas. Muster pode ter razão, minha amiga também. Beleza é e sempre será uma coisa subjetiva. Como subjetiva também é a decisão em Wimbledon.

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