São Paulo, quarta-feira, 26 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vem pra Caixa você também

Não se pode ignorar a virulência das pressões políticas que o governo federal tem sofrido na negociação das reformas constitucionais. Tampouco pode-se esquecer a delicadeza do momento atual, em que tais reformas começam a ser votadas. Ainda assim, parece um preço excessivo o que acaba de ser pago pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, ao aceitar um recuo no programa de reestruturação da Caixa Econômica Federal.
Afinal, as reformas são apenas uma das faces com que FHC se apresentou na campanha eleitoral. A outra, igualmente importante, era a promessa de resistir às investidas do Brasil velho, de sanear e modernizar a máquina administrativa e moralizar a esfera pública.
O plano original do governo era extinguir as 31 superintendências estaduais da CEF e substituí-las por 6 coordenadorias. Depois de recuos e vaivéns, o Executivo decidiu não só manter as superintendências como somar a elas as novas coordenadorias. Em vez de reduzir o número de cargos, acabou por aumentá-los, no aparente intuito de contrapor ao peso político dos superintendentes a avaliação supostamente técnica dos coordenadores.
É evidente que certas concessões têm de ser feitas numa negociação complexa, como é a das reformas constitucionais, e é razoável supor que o Executivo, enfraquecido por uma certa inoperância inicial, terá de ceder ainda mais para conseguir seus intentos nesse campo. Ainda assim, por mais que se reconheçam as exigências implacáveis da Realpolitik, é lamentável ver sacrificado como moeda de barganha o compromisso eleitoral com a austeridade e com a reforma administrativa.
O mais lamentável, contudo, é reconhecer o comportamento mesquinho, pequeno, mercantil de boa parte do Parlamento brasileiro, que torna necessário esse tipo de negociação espúria na qual quem perde é sempre o cidadão. Não se discutem idéias ou princípios nem se leva em conta a voz das urnas. O que conta é o que cada um pode ganhar em troca. Por mais que algumas coisas mudem no país -e mudaram muito, por exemplo, no setor privado-, algumas, infelizmente, permanecem as mesmas.

Texto Anterior: As propostas do TSE
Próximo Texto: Quando proteger é educar
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.