São Paulo, quarta-feira, 26 de abril de 1995
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Quando proteger é educar

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - O protecionismo, um dos principais demônios do credo neoliberal, também pode ser pedagógico. É o que prova Henry-François Henner, em artigo republicado no mais recente número de "Problèmes Économiques", da Documentação Francesa.
O texto remete a artigo do norte-americano Alan Tonelson, que analisa seis indústrias norte-americanas, submetidas ao que o autor chama de "protecionismo educativo".
Em todas elas, esquemas de defesa da indústria local, patrocinados pelo governo, tiveram como efeito recuperar setores abalados. Detalhe: em alguns casos, o presidente era Ronald Reagan, ídolo neoliberal.
Exemplo: a indústria siderúrgica norte-americana viu cair sua participação na produção mundial de 50% ao término da 2ª Guerra (1945) para 14% em 1980. O governo Reagan conduziu negociações que limitaram as importações a entre 18,5% e 20,2% do mercado norte-americano, conforme o tipo de produto.
Resultado: a indústria se modernizou, as despesas com investimentos pularam de US$ 862 milhões em 86 para US$ 2,5 bilhões em 90, e firmas japonesas e coreanas, com a queda de suas vendas, instalaram-se nos EUA, levando tecnologia consigo.
Consequência final: "Entre 82 e 92, os custos de produção da tonelada de aço baixaram 20% nos EUA, permitindo às mini-aciarias norte-americanas figurar entre as mais eficazes do mundo, ao mesmo tempo que a qualidade média dos produtos se elevava", diz o artigo.
Vale o mesmo raciocínio para a indústria de máquinas, em que as empresas locais recuperaram 13 pontos percentuais de mercado em apenas seis anos (87/92) e as exportações cresceram 63% no mesmo período. Ou para automóveis, graças a um acordo com o Japão, que decidiu "voluntariamente" (leia-se: sob pressão norte-americana) manter suas exportações para os EUA no limite de 1,65 milhão de unidades/ano.
É claro que o "protecionismo educativo" só funciona se o empresariado local aproveitar a proteção não para se acomodar, mas para se modernizar.
Mas que pode funcionar, pode, como provam os exemplos citados. O resto é dogma, que é bom para a teologia, mas não para a economia.

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