São Paulo, quarta-feira, 26 de abril de 1995
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Malan ataca coveiros

GILBERTO DIMENSTEIN

WASHINGTON - O ministro da Fazenda, Pedro Malan, guarda um dossiê que, segundo ele, seria capaz de arranhar o prestígio de badaladas personalidades da economia brasileira -muitas delas contratadas por empresas para fazer previsões, ganhando eco na imprensa. "São os coveiros do real", disse ontem.
Esse dossiê é um dos ingredientes do esforço publicitário de Malan para enfrentar o que considera uma tendência à sinistrose e condenar o que chama "alarmistas de plantão", usando o tom mais agressivo desde que entrou no governo.
Ele colecionou artigos e informes sobre o futuro da inflação desde a decretação do Plano Real, com previsões exageradas. "Ninguém apostava que a inflação pudesse cair, mas caiu", disse, ao anunciar que o índice de abril foi menor do que o esperado.
Dos Estados Unidos, Malan insiste que o Brasil vai bem, muito obrigado. Só não vê quem não quer, avalia. No seu otimismo, ele jura que a balança comercial já começou a virar e, em maio, a inflação cairia, para o desespero dos "coveiros do real". Para completar, ele recebeu aqui em Washington demonstrações de simpatia das estrelas das finanças internacionais, a começar do Fundo Monetário Internacional.
O fato, porém, é que, se números ameaçam mesmo enterrar as previsões dos tais "coveiros" (e é ótimo ao Brasil), não servem ainda para serenar a opinião pública. A verdade: estamos longe, muito longe, da estabilização dos preços.
O próprio governo reconhece que o ritmo da economia é explosivo e não se sabe ao certo até que ponto as últimas medidas vão surtir efeito.
O governo está no seu papel de vender otimismo, óbvio. E também de criticar quem tenta faturar no caos, espécime que germinou no Brasil, tantos os fracassos de planos econômicos.
Mas se existem catastrofistas é porque a opinião pública tem justificada razão de desconfiar das promessas oficiais -muitas delas já foram enterradas sem choro nem vela.
PS - A propósito, a revista "The Economist" publicou uma magistral definição: o economista de hoje é aquele que vai explicar amanhã os erros das previsões que fez ontem. Aliás, José Serra me ensinou uma frase muito valiosa: é bom estudar economia pelo menos para se proteger dos economistas. Não vai aqui nenhuma arrogância analítica: também acho que é importante conhecer jornalismo para se proteger dos jornalistas.

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