São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Novo mínimo custa caro para o governo

SILVANA QUAGLIO; VIVALDO DE SOUSA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A aprovação, pelo Congresso, do aumento do salário mínimo para R$ 100 a partir de maio e a extensão do reajuste (42,85%) para todos os aposentados e pensionistas custou caro para o governo.
A Previdência arcará com um gasto extra de aproximadamente R$ 1,5 bilhão em 95, enquanto o aumento da contribuição de empregados de 10% para 11% para quem recebe salários mais altos (também aprovado pelo Congresso) renderá cerca de R$ 300 milhões.
Segundo a Folha apurou junto ao Ministério da Previdência, o governo pretendia no seu projeto original dar mais racionalidade ao sistema previdenciário, cortando auxílios que significam pouca ajuda e grande gasto administrativo, fechando brechas para fraudes e unificando alíquotas de contribuição de empregados.
A mistura destes elementos resultaria em um aumento da arrecadação, que ultrapassaria R$ 1 bilhão, segundo cálculos do Ministério da Previdência.
Mas o governo teve de ceder na negociação com os partidos políticos na Câmara, inclusive com os aliados PSDB -partido do presidente Fernando Henrique-, PFL, PMDB, PTB, PP e PL.
Entre as principais concessões do governo está a unificação da alíquota de contribuição dos trabalhadores autônomos em 20%. Esta medida renderia uma arrecadação extra de outros R$ 300 milhões no ano de 1995.
As alíquotas permaneceram em 10% (para quem contribui sobre o valor de até três salários-base) e 20% (para as demais sete faixas de salários-base).
O governo também não conseguiu acabar com o auxílio-natalidade nem com as aposentadorias especiais para jornalistas e aeronautas, que tem legislação específica.
Área rural
Também ficou de fora do projeto aprovado pelo Congresso a regra que impunha condições mais rigorosas para utilização do tempo trabalhado no campo para obtenção apenas de benefícios rurais (limitados a um salário mínimo).
O governo identifica esta como uma fonte de fraudes, já que muitos trabalhadores urbanos conseguem comprovar tempo de trabalho no campo (basta uma declaração do empregador para comprovar o tempo trabalhado) para se aposentar precocemente com benefícios mais altos.
Além disso, em pelo menos um ponto o acaso pode ter conspirado contra a proposta do governo. O projeto original extinguia os pecúlios (benefícios pagos em dinheiro em uma só parcela) por morte e invalidez em caso de acidente do trabalho.
Os parlamentares aceitaram a extinção, o relator acolheu a medida, mas o texto oficial do projeto aprovado pela Câmara não contemplou a modificação.
"Foi um erro de datilografia", justificou o relator, deputado Jofran Frejat (PP-DF).
O Senado não corrigiu o erro para evitar que o projeto retornasse à Câmara para nova votação -o que acontece sempre que há modificações no texto aprovado originalmente.
A lei será sancionada sem a extinção pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, que quer evitar o desgaste de ter que mandar novamente o projeto para a Câmara.
A Folha apurou que o governo espera que as concessões feitas para a aprovação do projeto de lei revertam em apoio político à reforma mais ampla da Previdência.

Texto Anterior: SAIBA O QUE É O FAT
Próximo Texto: Sem crédito, estaleiro quer demitir 700
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.