São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 1995
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AMBIENTE INFLUI NA ATITUDE DA ROUPA

ERIKA PALOMINO
DA REDAÇÃO

Não adianta. É Paris o que conta. Está aí o brasileiro Ocimar Versolato para não deixar ninguém mentir.
Sem nacionalismos, o estilista é considerado uma das principais apostas do prêt-à-porter e este inverno só vem consolidar este hype.
Em termos de estilo, Versolato aposta numa mulher sexy, sem romper os limites da vulgaridade (como ele mesmo gosta de dizer), mas muito abusada.
Suas armas são o corte incisivo e um domínio cada vez maior do peso e da textura dos materiais.
Neste terreno, talvez apenas o inglês John Galliano caminhe por perto. Remixando seus correntes conceitos de moda, calcados sobre uma idealizada figura de diva anos 50, Galliano fez seu desfile num teatro, em que a cenografia reproduzia um telhado com muita neve em volta das modelos.
Alguém ouviu cenografia? Cenografia em Paris?
Isto mesmo. Uma das vertentes desta temporada é justamente a encenação, a ambientação dos desfiles. Tão importante quanto as roupas, neste caso.
A maioria dos estilistas que efetivamente muda alguma coisa em termos de conteúdo -e não de tendenciazinha- não desfila nas salas do museu Louvre, que sedia oficialmente os lançamentos dos afiliados à Chambre Syndicale.
Parte integrante dos looks da temporada, o local (e sua decoração) fazem parte da atitude da moda em questão.
Assim, Jean Paul Gaultier encarna um divertido e terrível espírito Gaultier (entenda-se por extravagância, bom humor, auto-ironia, cor, estampa e forma) num pequeno teatro rococó, no distante e quase marginal Boulevard de Rochechouart.
Coincidência ou hype, também desfilaram nesta avenida do 18º arrondissement de Paris (o centro da cidade fica no 1º, para se ter uma idéia) nomes da facção "moderna" como Comme des Garçons e Jean Colonna.
Colonna, hardcore por natureza, pôs suas modelos para desfilar ao som de uma das damas do rock dos anos 70, Suzy 4. Os looks: calças e casacos de couro (que não podem faltar em nenhum armário fashion daqui por diante), cortados sobre silhuetas estreitas e justas, ao lado das estampas animais que lhe fazem também a fama.
O vendaval dos belgas que trouxe o desconstrutivismo começa a soprar em outra direção. Um de seus mentores mais severos, Martin Margiela surpreendeu. Para começar, armou sua passarela num obscuro circo em que não se chegava de táxi -só de metrô, onde, à saída, assistentes vestidos de cor-de-rosa (a cor que marca os principais looks da temporada, para a maioria dos estilistas) enfiavam o público em miniônibus até o lugar.
Modelos vestidas com capuzes pretos desfilavam então looks mais comerciais e acessíveis, em peças combináveis. Blazers, camisas, calças e saias ganhavam recursos como o sábio uso de cor na composição. As escolhidas são o vinho, o rosa, o vermelho. Quem diria.
Dries Van Noten brincou de caça-ao-tesouro fashion com seus convidados, num siga-a-seta no metrô em seu desfile sobre tons de laranja, vermelho e marrom numa sala da faculdade de botânica. As formas evoluem menos explícitas e mais simples sobre o retrô anos 40 e 50 detonado à última temporada.
Mas é a conterrânea deles, Ann Demeulemeester quem dá o maior passo desta vez, num excepcional trabalho de forma, em corte seco sobre o tecido, obtendo formas simples que chegam à perfeição no vestido de cintura mais baixa e gola contida.
Para finalizar: o deus da moda Helmut Lang põe à prova os limites do mundo fashion com lento e cerebral uso do corte e dos materiais sintéticos.

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