São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 1995
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O erro é da realidade

LUÍS NASSIF

Em janeiro passado, um empresário dizia-me que pagava US$ 5.000 por mês para um consultor carioca especializado em previsão de inflação.
O empresário era um nosomaníaco econômico, consumidor compulsivo de noticiário de jornais. O consultor, uma daquelas fontes em permanente disponibilidade, que garante mensalmente seu espaço na imprensa com previsões dramáticas, adequadas para manchetes fortes, mas que quase nunca se confirmam.
Como o tal consultor já entrara na rotina das pautas, para quê estragar a fonte com uma retranca banal, que informasse o leitor sobre quantas vezes ele falhou em suas previsões?
Lembrei o empresário de que seu consultor havia previsto 5% de inflação para dezembro (foi menos que 1%). O empresário saiu em sua defesa: "Mas ele apresentou explicações muito convincentes para o que ocorreu. Houve manipulação do Dallari, convencendo os empresários a não aumentar preço, e os efeitos da abertura das importações".
Em suma, errada não era a previsão, era a inflação.
Para abril, o tal consultor estava prevendo 4% de inflação. Sugeri ao empresário aumentar seu pagamento. "Por quê?", indagou ele. Expliquei que a qualidade das desculpas, seguramente, seria melhor ainda.
A dramatização da análise faz parte do marketing do economista. Sua informação ganha aura de mistério, de profundidade. Quem se importa com um analista que banaliza a análise? Há algo mais profundo do que prever o fim do mundo?
Outro dia, na ponte aérea, um industrial contava, algo revoltado, que outro consultor fez exposição a executivos estrangeiros de uma multinacional e disparou à queima-roupa: "Se aumentar o salário mínimo para US$ 100, o Plano Real acaba". Assim, sem desconto.
Na segunda-feira à noite, no programa "Entrevista Coletiva", da TV Bandeirantes, a deputada Yeda Crusius reiterava essa verdade absoluta. A pobre da deputada Marta Suplicy, recorrendo ao senso comum, tentava entender: mas como R$ 15 de aumento no salário podem esfrangalhar a economia? E a deputada Yeda, com o sorriso complacente de um oráculo grego que se digna a dirigir a voz ao comum dos mortais: "A economia tem suas leis", ou batatinha quando nasce.
Há a necessidade premente de instituir o risco na análise desses consultores. Quando acertam, fazem o maior alarde. Quando erram, ninguém lhes cobra nada. Assim é fácil ser catastrofista.
Catastrofista
Para quem gosta de catástrofe real, uma dica: as últimas medidas do Banco Central vão deflagrar, em poucas semanas, uma crise de inadimplência de graves proporções.
Café sem cotas
Em reunião em Brasília, ontem à noite, por maioria absoluta, a Confederação Nacional do Café manifestou-se contra a volta das cotas de exportação. A favor, apenas a Federação Brasileira dos Exportadores de Café, que congrega os exportadores.
Se continuar com essa heterodoxia, o café ainda vai voltar a ser uma cultura relevante.

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