São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 1995 |
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Ousadia de "Engraçadinha" na Globo limita-se às cenas de nudez
FERNANDA SCALZO
O problema da minissérie em 20 capítulos que a Globo começou a exibir anteontem não está na protagonista. A estreante Alessandra Negrini, que interpreta Engraçadinha quando jovem, é a responsável pelos raros momentos um pouco mais divertidos da série. Sim, porque Nelson Rodrigues é divertido, é dramático, exasperante, tesudo, tudo menos a história anódina, entremeada por peitos e bundas, que a Globo apresentou anteontem. O elenco estelar escalado pela emissora parece todo acanhado. Sérgio Mamberti não convence como o grotesco tio Nonô, Nicette Bruno pouco tem a ver com a fedida tia Zezé. Claudio Correa e Castro nem sequer pode dizer o melhor texto de seu personagem, Arnaldo, o pai de Engraçadinha: "Os magros como eu só devem amar vestidos". É curioso o que a Globo conseguiu fazer: manter-se razoavelmente fiel ao texto e despedaçá-lo ao mesmo tempo. O romance de Nelson Rodrigues ficou parecido com qualquer outra produção da emissora. É pena que o escritor, que nasceu em Recife em 1912 e morreu no Rio em 1980, volte a ser tema de conversa -do botequim ao jantar beneficente de senhoras- através do olhar apaziguante que a Globo tem sobre todas as coisas. Incesto, mutilação, homossexualismo, suicídio são alguns dos motes de "Asfalto Selvagem - Engraçadinha... Seus Amores e Seus Pecados", romance em que a série se baseia. A julgar pelo primeiro capítulo, tudo isso deverá aparecer na TV -afinal, a Globo não é mais uma menina, já tem 30 anos. Mas de uma maneira tão igual a tudo o que você já viu, que mal vai perceber do que se trata. Nelson Rodrigues na Globo resume-se a alguma nudez. Da moça pelada que aparece na apresentação cafona à bunda de Angelo Antonio, tudo alimenta os olhos mas não as vísceras. Ao contrário de "Memorial de Maria Moura", uma minissérie que prescindia do livro em que se baseava, "Engraçadinha" encaixa-se nos 98% dos casos em que mais vale ler o livro. Série: Engraçadinha Adaptação: Leopoldo Serran e Carlos Gerbase, a partir do romance "Asfalto Selvagem", de Nelson Rodrigues Direção: Carlos Manga, Denise Saraceni e Johnny Jardim Elenco: Claudia Raia, Alessandra Negrini, Paulo Betti, Pedro Paulo Rangel Quando: de terça a sexta, às 22h30 Onde: Globo Texto Anterior: Arnaldo Antunes discute identidade em CD Próximo Texto: 'Vida Privada' nasce clássico como pizza Índice |
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