São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 1995
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Poesia e realidade no trânsito

Que algo precisa ser feito a respeito do caótico trânsito na cidade de São Paulo já é um consenso. A aproximação do inverno só deve aumentar o consenso, dado que a poluição atmosférica, 90% dela atribuída aos veículos da Grande São Paulo, aumenta nesse período.
A questão é saber o que fazer exatamente e se a proposta do governo paulista, de dar caráter facultativo ao rodízio na circulação de automóveis, a partir do mês do que vem, resolve alguma coisa ou é mera poesia das autoridades.
Para se ter ao menos uma prévia da resposta, basta que o leitor responda: pretende deixar o carro em casa e utilizar-se dos meios públicos de transporte ou do veículo de amigos? Será a própria sociedade que vai determinar se o rodízio, sem punições, funcionará ou não.
Mas a lógica manda dizer que as chances de êxito são, no mínimo, bastante pequenas. Para que o rodízio voluntário funcione seria preciso um grau de consciência cívica elevadíssimo, raro mesmo em países do Primeiro Mundo. Neles, é normal que se recorra a algum tipo de custo para induzir o usuário de veículos a deixá-lo em casa.
No caso de São Paulo, como no da maioria das grandes cidades brasileiras, há um fator adicional a desestimular o uso de transporte público. Este é precário demais para seduzir o dono de um automóvel a abandonar o conforto inegável de utilizar seu próprio carro.
Por isso, parece mais viável a adoção de um rodízio compulsório, com multas para quem violá-lo. Nessa hipótese, sim, se poderia apelar mais facilmente à colaboração da cidadania. É lógico que confiar apenas na fiscalização dos poderes públicos é meio caminho andado para o fracasso do rodízio. Os fiscais são poucos e submetidos à permanente tentação de propinas.
Mas a cidadania, maior interessada em um trânsito menos caótico e em um ambiente urbano menos poluído, poderia colaborar com as autoridades, no mínimo cobrando eficiência da fiscalização.

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