São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 1995
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O consumidor virou inimigo

GILBERTO DIMENSTEIN

WASHINGTON - Se pudesse, o governo simplesmente aumentaria o imposto dos cidadãos para evitar que saiam por aí comprando tanto e, assim, reduzir as chances da inflação. "Seria o ideal", disse em Washington o diretor do Banco Central, Alkimar Moura -ideal, mas inviável, pelo menos agora, reconhece. Daí se vê o receio da área econômica diante da crise.
Considerando que o consumo excessivo é capaz de contaminar irremediavelmente o Plano Real, com aumento de preços e queda das reservas internacionais, a área econômica mostra-se disposta a tudo.
Eles não se sentem como se estivessem atirando no escuro, mas, no mínimo, com um dos olhos tapados. Isso significa que se estudam ofensivas em empresas do tipo "factoring", que compram de cheques pré-datados até o cartão de crédito. Recado decodificado do ministro da Fazenda, Pedro Malan: se as últimas medidas não surtirem efeito rapidamente, vem mais chumbo.
Nas conversas de bastidores aqui em Washington, via-se nitidamente que eles colocaram na mira todos os mecanismos que facilitem o consumo das pessoas e empresas; os advogados do governo já estão quebrando a cabeça para encontrar meios de mexer em áreas que supostamente seriam "imexíveis" pelo Banco Central.
A lógica: se eles já estão no tiroteio com uma inflação baixa, recorde nos últimos 25 anos -computando-se os quatro primeiros meses do ano-, imaginem com uma taxa de 3% ao mês. Os "coveiros do Real" vão enterrar gente (e com status ministerial) junto com o plano. E, se piorar, vão junto para a cova as pretensões eleitorais de muito tucano engalanado.
O problema é tão simples como óbvio: com inflação em alta, o governo Fernando Henrique Cardoso acaba. E vai ter que procurar outros meios de recomeçar.
PS - O ministro Pedro Malan mostrou-se ontem irritado com o que considerou "irresponsabilidade". Boatos que chegavam do Brasil indicavam que seriam tomadas hoje novas medidas na área de câmbio. Disse que é "plantação de operador de câmbio". A ver.

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