São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 1995
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França ganha livro com obra de Niemeyer

SILVIO CIOFFI
EDITOR DE TURISMO

O francês Jean Petit não é um Joãozinho qualquer. É um editor de livros apaixonado pela arquitetura. É também um homem de horizontes largos e falas telegráficas.
Em sua sexta viagem ao Brasil, Petit trouxe na bagagem o livro "Niemeyer, Poète d'Architecture" (Niemeyer, Poeta da Arquitetura), que está sendo lançado na França nesta semana.
Petit, 67, mede sua idade com segundo um padrão muito próprio: "Tenho 20 anos menos que Niemeyer, que tem 20 anos menos que tinha Le Corbusier".
"Louco por arquitetura", Petit também também cria seus cenários. O mais festejado foi concebido em 1950, para a peça "As Moscas", a pedido do autor, seu amigo filósofo, existencialista e francês Jean-Paul Sartre (1905-80).
Em entrevista à Folha, Petit falou do seu livro, de arquitetura e arquitetos. Suas frases, curtas, foram generosamente traduzidas por Cecília Scharlach.
Folha - O sr. se define como um editor de livros de arte?
Jean Petit - Fiz livros com arquitetos, pintores e artistas contemporâneos. Particularmente publiquei e produzi muitos livros com o arquiteto franco-suíço Charles-Édouard Jeanneret, o Le Corbusier (1887-1965), e sobre Oscar Niemeyer (1907).

Folha - O sr. também foi amigo de Le Corbusier?
Petit - Sim, trabalhamos juntos.
Folha - Falando da arquitetura neste século, como o sr. vê a obra de Oscar Niemeyer?
Petit - É difícil responder. Niemeyer é um dos maiores arquitetos do século, menos teórico, mais rico e generoso... Outros mais ancorados a teorias ou a sistemas não deram uma contribuição tão grande.
Folha - E que relação há entre as obras de Oscar Niemeyer e Le Corbusier?
Petit - Penso que no início houve uma relação entre a arquitetura de ambos, mas Oscar Niemeyer se desprendeu e iniciou seu caminho próprio. Na Pampulha (1940), em Belo Horizonte, já se sente essa autonomia.
Com a vinda de Le Corbusier ao Brasil, em 1936, houve essa influência sobre a arquitetura brasileira, mas Niemeyer se desligou dela e seguiu.
Folha - E qual é, na sua opinião, a importância da arquitetura norte-americana, das obras de Louis Sullivan (1856-1924) e Frank Lloyd Wright (1867-1959), dos arquitetos que trabalharam em Chicago no início do século?
Petit - Não é minha paixão. Acho que tem importância. Todo mundo sabe que meu arquiteto preferido é Niemeyer.
Folha - Ainda falando da arquitetura do século, como o sr. vê a escola de design Bauhaus, que funcionou na Alemanha entre 1919 e 1933?
Petit - Não me lembro bem das palavras, mas o arquiteto e artista plástico suíço Max Bill (1908-94), um dos expoentes da Bauhaus, escreveu um artigo criticando a concepção do parque do Ibirapuera (1951). Dizia que a arquitetura de Niemeyer era inconsistente e ligeira, que não tinha base teórica, coisas com as quais eu obviamente não concordo.
Folha - E quando o sr. se deparou com a obra de Niemeyer, antes ou depois da inauguração de Brasília em 1960?
Petit - Foi através de um arquiteto greco-americano, Stamo Papadaki, que conhecia Niemeyer.
Folha - E quanto tempo o sr. demorou para preparar a edição desse livro?
Petit - Mais ou menos dois anos. Como conheço Niemeyer e já fiz livros sobre ele, até que não demorou muito. Na verdade esse trabalho vem se acumulando.
Folha - E quando esse novo livro será lançado?
Petit - Esse livro começará a ser distribuído nesta semana em Paris, mas no final do mês de maio haverá um lançamento público, acompanhado de exposição com cerca de 20 painéis que resumem pensamento e obra de Niemeyer.
Folha - Como o sr. fez a pesquisa de fotos e croquis, no Brasil ou no exterior?
Petit - As fotos vieram essencialmente de arquivos particulares. Fui atrás de fotógrafos para recuperar coisas. Os desenhos foram obtidos junto ao escritório de Niemeyer e a seus amigos. No começo ele resistiu, mas depois ajudou.
Ao contrário de outros, como o arquiteto suíço Mario Botta, Niemeyer não é uma pessoa que guarda suas coisas com muita organização -até porque não é dado à autopromoção.
Folha - E esse livro se destina a estudantes de arquitetura?
Petit - Pensei em não fazer um livro para especialistas, mas para quem queira compreender arquitetura. Prefiro essa visão poética, o que não impede que a parte documental seja precisa.
Continua na pág. 6-14.

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