São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 1995 |
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'Coluna do Alvorada foi marca de café'
SILVIO CIOFFI
Folha - O sr. falou de Botta (que projetou o recém-inaugurado Museu de Arte Moderna de San Francisco, nos EUA) e fez um livro sobre ele. Ele tem estilo pós-moderno. O que o sr. acha dessa linha? Petit - Botta não é pós-moderno (diz entre baforadas na cigarrilha Davidoff). Essa é uma classificação que não aceito. Folha - Mas ele não segue uma linha muito diferente da de Niemeyer? Petit - Sim, ele é um bom arquiteto, atual. Mas não é comparável, é um outro mundo... Quando ando em Paris e em outras cidades que têm edifícios chamados de pós-modernos, fico pensando que eles acrescentam pouco. Já Botta -que tem hoje 52 anos- faz uma arquitetura mais sólida, quase que exagerada, mas ele tem seu caminho e persegue uma linha. Não o considero pós-moderno. Botta e Niemeyer são muito diferentes. Botta é um camponês, é ligado à terra e até os tijolos que usa refletem isso. Folha - E como é o mundo de Niemeyer, o que ele reflete? Petit - Oscar Niemeyer é a liberdade, a generosidade, a amplidão. É muito difícil estabelecer uma ligação. Um é suíço, um suíço-italiano, outro brasileiro. Niemeyer se encontra num mundo completamente aberto. Na Europa, na Suíça, o mundo é mais fechado. Folha - E quais são os projetos de Niemeyer que o sr. gosta e não gosta? Petit - Não sei dizer. É mais fácil dizer do que a gente não gosta. Gosto das coisas dele. Folha - O sr. poderia especificar um pouco? Petit - Gosto da casa de Canoas (RJ), da catedral de Brasília. Folha - Como o sr. conheceu pessoalmente Niemeyer? Petit -Isso faz 35 anos, mais ou menos. Folha - Na França? Petit - Em Paris. Uma vez, em 1963, Niemeyer me pediu para rever Sartre e fomos vê-lo juntos. Folha - E o sr. o encontrou em outros lugares? Petit - Muitas vezes, na Argélia, em Milão, no Brasil. Mas muito em Paris, quando ele tinha escritório lá. Folha - As formas que Niemeyer cria muitas vezes são depois banalizadas, como o sr. vê isso? Petit - Isso acontece, é inevitável (e desenha num papel as colunas do Alvorada). Aconteceu com Le Corbusier. Em Paris havia uma marca de café com essa forma (mostra o papel com o esboço da coluna). Folha - E como era Le Corbusier, dizem que era ligado às aparências, que veio no balão dirigível Zeppelin em 1936... Petit - Eu só o conheci depois da Segunda Guerra, em 1945. Ele era elegante, mas não era mundano, nem minimamente. Mas não dá para esquecer que ele também era um suíço, um suíço-francês. Folha - As formas de Niemeyer são muitas vezes sensuais. Ele fez inclusive muitos desenhos de silhuetas de mulheres -e o livro tem vários desses desenhos. Como o sr. vê isso? Petit - Estou completamente de acordo. Folha - Também criticam a arquitetura de Oscar Niemeyer dizendo que ela não tem a dimensão do homem, não é funcional, o que o sr. acha disso? Petit - Um dia assisti na Itália a uma conferência do arquiteto norte-americano Richard Neutra (1892-1970), que fez uma casa famosa no deserto, toda de vidro. E ele contou que uma vez estava lá com um amigo que perguntou: "E a sesta, como a gente faz para dormir de tarde?". E Neutra respondeu: "Ponha óculos escuros!". Folha - Quer dizer que na sua visão a beleza é mais importante do que tudo em arquitetura? Petit - Não, não. Nunca vivi numa casa de Niemeyer, mas penso que a gente pode viver bem lá. Folha - O sr. mora em Paris? Petit - Não, em Genebra, Suíça. Folha - Numa casa antiga ou numa casa moderna? Petit - Numa casa qualquer... NIEMEYER, POÈTE D'ARCHITECTURE, de Jean Petit. Editora Fidia Edizioni D'Arte Lugano. 420 págs. 800 francos nas livrarias de Paris (R$ 150). Tiragem: 4.500 exemplares. Texto Anterior: França ganha livro com obra de Niemeyer Próximo Texto: Copacabana investe na recuperação do glamour Índice |
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