São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 1995
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Violonista foi um Mozart para o chorinho

LUÍS NASSIF
DO CONSELHO EDITORIAL

Rafael Rabello não foi apenas o mais talentoso violonista brasileiro de sua geração. Nos círculos especializados, era considerado um dos três maiores violonistas da atualidade, ao lado do inglês John Williams e do cigano Paco de Lucia.
Aluno de Meira e Radamés Gnatalli, aos 14 anos já se rivalizava com o lendário Dino no violão de sete cordas. Na época, seu acompanhamento para os solos de Turíbio Santos espalhou sua fama pelas rodas de choro do país. Era pouco mais que um menino, com mãos pequenas, mas que alcançavam todas as oitavas do instrumento, e com uma imaginação sem paralelo para o contraponto.
Seu talento acabou empurrando-o para os solos de violão, circunstância que não o agradava tanto quanto o acompanhamento. Mesmo assim, participou de gravações clássicas, como no duo com Radamés Gnatalli, em que solavam em uníssono a valsa "Desvairada", de Garoto, numa velocidade sem paralelo.
A tragédia cortou sua carreira em pleno vôo. Anos atrás sofreu acidente de trânsito. Uma transfusão criminosa inoculou o vírus da Aids no músico.
Não há indícios de que a doença tenha se manifestado em seu físico ou que tenha morrido dela. Mas destruiu seu equilíbrio psicológico. Tornou-o ansioso, querendo a todo custo perpetuar-se, numa luta alucinada contra a morte. Nos shows e gravações, utilizou seu virtuosismo um pouco além da conta.
Ficou um talento incompleto, mas enorme demais para se diluir na pressa. Quando parava para sentir, era do tamanho de Garoto e de Baden -os maiores violonistas brasileiros de todos os tempos.
Nas rodas caseiras de choro, produziu as mais belas interpretações da história do gênero. Há cerca de dois anos, realizou sua obra máxima, um disco com Dino 7 Cordas. Sua interpretação de "1 a 0" supera a gravação original, de Pixinguinha e Benedito Lacerda.
Mas a tragédia fazia parte de seu destino. Anos atrás, o produtor musical Pelão assustou-o com uma predição: "Você não vai viver muito tempo. Seu talento é grande demais para uma vida normal".
Pela precocidade, talento e fragilidade, foi o Mozart do choro. Era um amigo querido.

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