São Paulo, sábado, 29 de abril de 1995 |
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Zé Dirceu Caprichou
JOSUÉ MACHADO
Fosse o Viola, o Maluf, o Romário, o Quércia, o Tonhão, o Fleury... Fosse até o Lula, que mourejou parte da vida sem tempo de ir à escola e de vez enquando diz essas coisas para conquistar o voto popular -justificam seus companheiros-, não haveria tanta perplexidade. Mas o Zé Dirceu, ex-líder estudantil, ex-universitário, deputado combativo... O uso do verbo fazer foi dos primeiros que todos aprendemos a domar nos bons tempos de escola. Com expressões de tempo, "fazer" mantém-se na terceira pessoa do singular, impessoal e discreto como o vice-presidente da República, o longilíneo, Marco Maciel, reformista faz trinta anos. ("Faz" trint'anos, ó computador.) "Faz cem dias que o governo está botando pra quebrar, faz cem dias que o governo anunciou não ter dinheiro para pagar 100 reais de salário mínimo etc." Se nesse caso "fazer" é impessoal, não tem sujeito -não deve concordar com os "dias perdidos" plurais, que não são o sujeito; não são "os dias perdidos" que fazem o que quer que seja. E quando "fazer", impessoal, vem acompanhado de verbo auxiliar, o auxiliar impessoaliza-se solidário com ele, como os políticos com o poder e o ministro Reinhold Stephanes com os aposentados, ele que tantos 22 anos trabalhou para se aposentar com 46, cremos em Janio de Freitas. "Vai fazer cem dias que o governo...", "Amanhã deve fazer dois anos e treze dias que o reverendo dr. Almeida se tornou vice-reitor da Puc." Nunca "vão fazer cem dias...", "deverão fazer dois anos..." nesses casos, coisa obscena. Jamais. Que fazer? Primeiro, aumentar para duas horas quatro vezes por semana o inefável horário político compulsório bissemanal no rádio e na tevê. E alongar para duas horas a diária e deliciosa "Voz do Brasil", para que o amor do povo aos políticos continue crescendo, crescendo, crescendo... Não é o que eles querem e muito merecem? Há, no entanto, pessoas que não entendemos bons desígnios da classe política. Por isso, no horário até agora reservado para tais "programas", querem que os políticos assistam a aulas de português elementar e a filmes que mostrem como vive a maioria dos eleitores deles. Quem faltar, querem elas, ficará de castigo ajoelhado em grãos de milho; da segunda falta em diante, açoites de lanhar o coiro, como em Cingapura. Será que merecem tanto? JOSUÉ R.S. MACHADO é jornalista, formado em línguas neolatinas pela PUC-SP. Colaborou em diversos jornais e revistas. Texto Anterior: Maioria não é tratada no MA Próximo Texto: Enchentes, todos são culpados Índice |
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