São Paulo, sábado, 29 de abril de 1995
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Lojistas já estão sem financiamento

DA REPORTAGEM LOCAL

Os pequenos lojistas sentiram ontem mesmo os efeitos do novo pacote anticonsumo. Bancos e outras instituições já não aceitaram os cheques pré-datados como garantia, deixando os lojistas sem fonte de financiamento.
A informação é do presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, Gerson Gabrielli. Para ele, as últimas medidas do governo foram amargas e desnecessárias, porque o consumo já vinha caindo desde março.
A Confederação representa 3,5 milhões de micros, pequenos e médios empresários, com 7,5 milhões pontos de venda, responsáveis por 48% do produto nacional. Para Gabrielli, o governo não está ouvindo o setor.
"Não se pode agir sobre a economia brasileira com base apenas no que ocorre na avenida Paulista", disse o dirigente, referindo-se à região da cidade de São Paulo que concentra sedes de grandes bancos e empresas.
O governo, diz Gabrielli, observa anúncios de grandes empresas oferecendo prestações em até 12 vezes e pensa que todo o comércio age assim. Mas se esquece que essas grandes lojas têm financeiras próprias, situação muito diferente do pequeno lojista.
Este, segundo Gabrielli, apoiava seu fluxo financeiro no cheque pré-datado. Dava como garantia e levantava dinheiro para pagar seus compromissos diários. "Ontem mesmo, milhares de lojistas ficaram sem condições de fazer essas operações", afirma gabrielli. E qualquer financiamento paga juros "impossíveis" de 18% ao mês.
Gabrielli está preparando uma pesquisa própria, para mostrar a situação real do seu setor.
Essa pesquisa será levada ao presidente FHC e ao Congresso Nacional, numa manifestação que pretende reunir dois mil lojistas em Brasília. Eles vão aproveitar para manifestar apoio às reformas constitucionais.
A situação imediata preocupa. Gabrielli espera uma forte queda nas vendas e diz que, isso confirmado, os lojistas poderão demitir até 1,5 milhão de pessoas em todo o país.
Shoppings
As medidas tomadas pelo governo para conter o consumo foram "violentas" e vão provocar queda nas vendas nos shoppings.
A afirmação é de Raul Souza Sulzbacher, diretor do Departamento de Shoppings da Federação do Comércio do Estado de São Paulo.
"O setor previa um crescimento nas vendas entre 30% e 35% e maio em comparação com maio do ano passado. Essa estimativa de expansão agora cai para 20%", diz Sulzbacher.
O pacote anticonsumo, na avaliação de Sulzbacher, atinge principalmente o crédito direto ao consumidor e o cheque especial, que respondem por cerca de 20% a 30% do volume de negócios das lojas dos shoppings.

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