São Paulo, sábado, 29 de abril de 1995
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O dilema do PMDB

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - O senador Jáder Barbalho (PA), líder do PMDB, chuta o pau de várias barracas com apenas duas frases.
Frase 1: "Há interlocutores demais. O presidente da República tem que ter, preliminarmente, como interlocutores os líderes do PMDB na Câmara e no Senado". É alusão ao fato de que o PMDB é, ainda, majoritário em ambas as casas.
Com essa frase, Barbalho agride de uma só vez os três líderes governistas no Congresso e o senador José Sarney, presidente do Senado, e um dos "interlocutores demais" que Barbalho aponta.
Frase 2: "Eu não me entendo com tríplice aliança alguma. Eu me entendo com o presidente da República". Esta vale para os governadores Antônio Britto (PMDB-RS) e Tasso Jereissati (PSDB-CE) e para o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), tidos como a tríplice aliança que resolveria tudo ou quase tudo em nome dos seus três partidos.
Como retórica, perfeito. Mas Jáder Barbalho tem cacife suficiente para bancar suas frases? Sim e não. O não deriva da votação da admissibilidade da emenda da Previdência: mesmo sem os nove votos do PMDB, a admissibilidade teria sido aprovada.
Aliás, o vice-presidente Marco Maciel, ao ser informado das hesitações peemedebistas, esfregava as mãos de excitação e dizia a interlocutores: "Dá para ganhar sem eles".
O sim vem do próprio Fernando Henrique Cardoso. Quando se reuniu com os líderes dos partidos governistas, para avaliar o panorama a respeito da votação, FHC comentou: "Nós vamos ganhar, com ou sem o PMDB, mas ganhar sem o PMDB não é bom".
Não é bom por motivos óbvios: o PMDB é o maior partido do Congresso e qualquer governo que queira ter uma base parlamentar razoavelmente sólida não pode dispensá-lo alegremente. Mais: sem o PMDB, o governo fica de uma vez refém do PFL, cujo apetite pelos cargos públicos aumentará na direta proporção da ausência de um concorrente por eles (o PMDB).
É de acordo com esses parâmetros que o PMDB vai ter que trabalhar nas próximas duas semanas, prazo anunciado para a enésima discussão interna sobre ser governo ou ser oposição, um dilema que o partido carrega desde 1985.

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