São Paulo, sábado, 29 de abril de 1995
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GILBERTO DIMENSTEIN

WASHINGTON - Diariamente 12 crianças ou adolescentes são assassinados nos Estados Unidos -mais do que o dobro da média estimada no Brasil, onde, segundo os cálculos mais realistas, registra-se um assassinato a cada cinco homicídios diários. A matança carrega um número espantoso: diariamente, 135 mil jovens levam armas às escolas.
A taxa de homicídios de jovens duplicou em menos de dez anos, segundo dados do Centro para o Controle de Doenças; entre negros, triplicou. O número de presos subiu 168%.
Mais importante entidade de defesa dos direitos da criança nos Estados Unidos, o Children's Defense Fund está prestes a lançar seu relatório anual sobre a criança e o adolescente no país, baseado em dados oficiais. São dados capazes de assustar qualquer brasileiro.
Num requinte estatísticos, o documento faz o relato do que acontece por dia na infância dos Estados Unidos: 8.189 registros de abusos ou negligência; 100 mil crianças sem casa; 788 nascem com baixo peso; 95 morrem antes de completar um ano; 1.340 adolescentes têm filho; 2.217 deixam a escola antes da hora.
No geral, tem-se a seguinte catástrofe na nação mais rica do planeta, com uma renda per capita quase dez vezes maior do que a brasileira: uma em cada três crianças está destinada à pobreza, sair da escola, ser vítima de abuso ou negligência.
Não significa, em absoluto, que sejamos superiores. Ou possamos ficar reconfortados. Aqui, pelo menos, a taxa de impunidade é menor para os assassinos.
Importante é a lição de que não basta apenas crescer economicamente. O Brasil teve o maior crescimento do século e os Estados Unidos a cada ano mostram evolução na sua produção. O fundamental no combate à pobreza, além do aumento do PIB (a riqueza produzida) é lançar mecanismos de inclusão social -melhores escolas e, sobretudo, esforços para a valorização da família.
Fora disso, só vai nos restar o consolo de saber que, apesar de péssimos, tem gente mais rica e em pior situação -o que não ajuda nada para as vítimas.
PS - Pouca gente sabe, mas nos EUA e Europa existe forte interesse pelas experiências pedagógicas feitas no Brasil. Muitas delas -o Axé, de Salvador, por exemplo- são consideradas modelos e estão sendo adaptadas.

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