São Paulo, domingo, 30 de abril de 1995
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Economia aponta para a recessão

JOSÉ ROBERTO CAMPOS; SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

A economia argentina caminha para a recessão. O forte golpe sofrido pelo sistema financeiro coincidiu com um fim de um "boom" de expansão do crédito.
Os empréstimos para empresas e consumidores contraiu-se brutalmente porque os bancos ficaram sem dinheiro. Ao mesmo tempo, a falta de pagamentos e a pilha de créditos irrecuperáveis cresceram e pioraram ainda mais a situação das instituições financeiras.
"O país pode crescer 1,5% mas flerta com a recessão", previu para executivos financeiros de Buenos Aires Allen Sinai, diretor da grande corretora americana Lehman Brothers. "A contração da economia vem automaticamente".
O automatismo se deve à proibição de o governo emitir dinheiro sem que aumentem suas reservas internacionais, que veio com o Plano Cavallo. Se as reservas caem, a massa de dinheiro em circulação que move a economia declina junto.
O consultor Miguel Angel Broda, da M.A.M. Broda y Associados, acredita que se a crise de desconfiança for controlada, a Argentina conseguirá empurrar seu Produto Interno Bruto 2% para frente. Se a crise persistir por mais algum tempo, a economia teria um crescimento nulo.
A terceira possibilidade é a mais assustadora -uma nova corrida de saques de de depósitos bancários, perda de reserva e quedas maiores ainda na Bolsa de Valores. Neste caso, o governo tenderia a dolarizar a economia ou acabar um o congelamento cambial. Nos dois casos, a recessão é certa, com uma queda superior a 5% do PIB.
Além da contração da massa de dinheiro que esfriará a temperatura das atividades econômicas, o ajuste fiscal prometido pelo ministro Cavallo ao Fundo Monetário Internacional para obter crédito externo joga a favor da recessão. Em metas trimestrais, o governo tem de chegar ao final do ano com um superávit de US$ 4,3 bilhões. No primeiro trimestre, houve déficit de US$ 875 milhões, menor que o previsto ao FMI, de US$ 1,2 bilhão.
Cavallo já está discutindo novas medidas econômica para adotar depois das eleições de 14 de maio -obviamente se Menem conseguir mais um mandato.
O texto do acordo com o FMI diz "se prevê para 95 um importante ajuste nas finanças dos governos provinciais, pois estes não terão acesso a financiamento externo ou interno".
Isto pode ser traduzido por demissão de funcionários públicos, redução de salários e alteração nos acordos coletivos de trabalho para permitir redução nominal de salários.
Estão em estudo pela equipe de Cavallo a privatização do sistema de saúde de atendimento aos aposentados (Pami), novas alterações na legislação relativa à Previdência Social e parcelamento do décimo terceiro do funcionalismo público.
(JRC e SM)

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