São Paulo, domingo, 30 de abril de 1995
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O sociocapitalismo

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Em setembro de 1993, Pérsio Arida, então presidente do BNDES recém-indicado, disse à Folha que, em breve, os cotistas do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) poderiam trocar seu dinheiro por ações de determinadas estatais.
O esquema, no fundo, é simples: todo assalariado com carteira assinada tem depositado em conta especial um xis por cento de seu salário, em conta do FGTS que só pode ser movimentada em certas circunstâncias. Em vez de ficar com esse dinheiro, que rende menos do que a inflação, o cotista poderia trocá-lo por ações de estatais.
Haveria, entre outras, a enorme vantagem de trazer a privatização de estatais para perto do público em geral, retirando-a do círculo fechado dos capitalistas.
Pois bem: uma ano e meio depois do anúncio de Pérsio Arida, nada foi feito. Agora, o Instituto Atlântico, entidade suprapartidária com base no Rio, pretende interpelar judicialmente o governo para saber se o patrimônio do FGTS é ou não suficiente para honrar todos os seus compromissos.
No fundo, a interpelação é a maneira mais prática de relançar a tese que o economista Paulo Rabello de Castro, vice-presidente do instituto, batiza de sociocapitalismo.
Ou, no resumo possível neste espaço, "explorar ao limite as possibilidades de colaboração ativa dos cidadãos no processo de acumulação de capital e que, ao mesmo tempo, lhes dá, via fundos sociais de capitalização (sucedâneos do FGTS e da atual Previdência), retorno patrimonial pela co-propriedade dos ativos produtivos do país".
Só o FGTS tinha em depósitos de seus beneficiários algo em torno de US$ 30 bilhões em setembro de 1994. É mais do que o dobro do que a Coca Cola vendeu, no mundo todo, em 1993 (US$ 13,96 bilhões).
Fica fácil, por essa comparação, imaginar quantos sócios poderia ter o capitalismo brasileiro se se aplicasse uma idéia simples e já encampada por pelo menos uma autoridade do presente governo.
Mais: Rabello de Castro propõe que uma fatia desse fundo seja usada para atender carências sociais dos que, por não terem carteira assinada, não têm cotas do FGTS. Parece um ovo de Colombo, coisa, aliás, que o capitalismo brasileiro ainda não conseguiu pôr de pé.

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