São Paulo, domingo, 30 de abril de 1995
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Brasileiros e selvagens

GILBERTO DIMENSTEIN

WASHINGTON - Depois de 15 dias nos Estados Unidos conversando com vários tipos de formadores de opinião -jornalistas, empresários, ONGs, diplomatas, técnicos de entidades tipo FMI e Banco Mundial- é possível dizer: estamos pouco a pouco nos livrando da imagem de selvagens e exóticos.
Até a década de 70, prosperava a imagem do Brasil como o "país do futuro", uma espécie de Japão tropical. Era manchada, entretanto, pelos crimes do regime militar e ausência de democracia.
Veio a democracia e, com ela, basicamente notícias negativas que andavam coladas: corrupção, recessão, calote da dívida externa, inflação, além da selvageria do assassinato de crianças, impunidade aos matadores de aluguel e esquadrões da morte no campo e cidade, destruição das florestas. O lado "positivo": o Carnaval, com suas mulatas desnudas, e Pelé.
Uma série de fatos ajuda a imagem brasileira. O impeachment é visto como um sinal de civilidade; tirou-se um presidente sem um única briga de rua, notável experiência mundial. Fernando Collor, como vê, involuntariamente fez o que prometia: projetar a imagem do Brasil como um país de Primeiro Mundo.
Impressiona aqui ter um presidente intelectual, professor das melhores faculdades da Europa e Estados Unidos. E, depois da fase de "esquerda" adaptado aos novos ventos liberais.
O Plano Real, apesar de visto com desconfianças, trouxe a inflação para um nível aceitável. A taxa de inflação misturada com as chances de mais crescimento arregala os olhos dos investidores que, embora com receio, vêem chances de lucros.
As entidades de direitos humanos continuam (e com razão) apontando as mazelas e a impunidade com regra. Mas reconhecem avanços. O relatório do Itamaraty sobre direitos humanos foi feito com a ajuda do Núcleo de Estudos da Violência, tradicional crítico da impunidade nacional; seu dirigente, Paulo Sérgio Pinheiro, é uma referência brasileira a grupos como Human Rigths Watch ou Anistia Internacional.

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