São Paulo, domingo, 30 de abril de 1995
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Informadores de opinião

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Leitora do Rio estranhou que na crônica de anteontem eu mencionasse "informadores de opinião". Achava ela que o certo seria "formadores de opinião". Custou a admitir que me referia a informadores e não a formadores de opinião.
Em recente e curta participação num programa da TVE sobre o Quarto Poder, neguei que a mídia (imprensa, rádio, televisão, publicidade) fosse um quarto poder. Seria (ou é) apenas uma força a serviço gratuito ou remunerado do poder.
Não vem ao caso esclarecer, aqui, qual é o primeiro e único poder existente numa sociedade canibalizada pela violência e pela corrupção. É um núcleo mais ou menos invisível e, ao mesmo tempo, uma operação mais ou menos espalhafatosa: Executivo, Legislativo, Judiciário, empresariado etc. Esses órgãos (ou instituições) formam a gelatina, o caldo onde atuam os microorganismos que, esses sim, exercem o verdadeiro poder.
A mídia entra como um tanque entra na guerra. Em si mesma ela é neutra, ou líquida, tomando a forma do vaso (ou grupo) que a contém. É, talvez, a força mais poderosa da sociedade, mas não ultrapassa esse estágio de força, de tanque, de metralhadora.
Anteontem também, aqui na Folha, Marcelo Coelho escreveu excelente artigo sobre os 30 anos da Rede Globo -do arsenal a serviço do poder, tem a pinta de ser o tanque melhor aparelhado, a eficiente agulha (que não deixa de ser uma arma) abrindo o caminho no tecido social para nele implantar a linha do poder- qualquer que seja esse poder, militar ou civil, democrático ou totalitário.
Considerar o profissional da mídia um formador de opinião é desconhecer o background da comunicação. Ele não forma opinião nenhuma, muitas vezes nem chega a dispor de tempo e condições para ter uma opinião.
Fez muito sucesso, em tempos idos, a anedota que alguns atribuem a Alcindo Guanabara. Estava olhando as moscas da redação quando lhe pediram um artigo sobre Jesus Cristo. Ele perguntou: "Contra ou a favor?"

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