São Paulo, terça-feira, 2 de maio de 1995
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Quércia X Fleury

Uma disputa local e interna de um partido trouxe de volta ao noticiário dois nomes obscurecidos da política nacional. Orestes Quércia e Luiz Antonio Fleury Filho enfrentaram-se domingo pelo controle do diretório paulistano do PMDB.
Desde as contundentes derrotas de ambos nas últimas eleições -Quércia, diretamente, no pleito presidencial e Fleury, indiretamente, na disputa pela sua sucessão no Executivo paulista-, os dois ex-governadores saíram de cena. Houve até quem os considerasse politicamente acabados.
Mas se ambos ressurgiram efemeramente em função da disputa pelo diretório, o resultado desta tende a ser bastante diferente para cada um. Derrotado por 272 votos contra 24 na capital, Fleury perdeu talvez sua única chance de firmar ao menos uma base no PMDB paulista, dado que o interior é dominado pelo quercismo. Reforça-se assim a tendência declinante da criatura que se voltou contra o criador.
Já o comportamento de Quércia indica que ele quer aproveitar essa vitória para tentar começar a sair do relativo ostracismo em que esteve. Criticou o Planalto e sugeriu que o PMDB se afaste do governo.
É claro que só um resultado localizado como esse não produz maiores impactos. A imagem de Quércia prossegue altamente desgastada, associada a práticas antigas e deploráveis da tradição nacional -imagem aliás da qual Fleury não se diferencia muito. O fiasco na corrida presidencial sugere também que Quércia permanece enredado na teia de suspeitas não-esclarecidas que marcam sua carreira.
Mais ainda, deve-se lembrar que o partido no qual tenta reerguer-se é o PMDB, notório pela sua amorfia e inconsistência. Assim, uma vitória numa facção da legenda pouco significa em termos de influência nacional. Parte do PMDB é mesmo tida como ferrenha opositora sua.
Essas ressalvas servem para colocar no devido contexto e nas justas dimensões -não particularmente significativas- a conquista quercista de domingo. É certo que a política, como a economia, tem o irritante hábito de driblar previsões e enganar analistas. Mas, hoje, Quércia continua como mero coadjuvante no teatro político nacional.

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