São Paulo, terça-feira, 2 de maio de 1995
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A classe média

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - O acúmulo de temas me impediu de compartilhar com o leitor um trabalho do Instituto de Copenhague para Estudos do Futuro que diz respeito à classe média, o segmento que, suponho, compõe significativa parcela do leitorado.
Aproveito o feriado para fazê-lo agora. O estudo esquece o imediato e tenta lançar luzes sobre 2020. Uma das luzes: ``A classe média será um fenômeno global em 25 anos". Não que se imagine uma enorme redistribuição de renda global. Mas a ``prosperidade emergente" só em países de megapopulação como Índia e China, por exemplo, já dará substancial impulso à globalização da classe média.
Mesmo que apenas 20% das populações desses dois países passem, em 25 anos, a pertencer à classe média, serão, em números absolutos, 450 milhões de pessoas ou três vezes a população brasileira inteira. Acrescente-se América Latina, a Europa Oriental e a Rússia -e a previsão do instituto parece ficar ainda mais sólida.
Consequência, pelo lado puramente dos negócios: um ``boom" nas vendas de, por exemplo, CDs, fogões, fornos de microonda, calças jeans, cosméticos, jóias, sapatos e mobiliário. Mas o instituto aponta outra consequência, no território político-social: ``As virtudes da classe média -progresso material, influência e democracia, educação e carreira- se tornarão valores que caracterizarão grande parte do mundo".
Que a classe média tem lá suas virtudes, não nego. Mas tem também um punhado de graves defeitos, o principal dos quais é o egoísmo.
Prefiro, nesse contexto, uma outra análise, também produzida para a Cúpula sobre o Desenvolvimento Social de Copenhague, de autoria de Josef Thesing, chefe da área de cooperação internacional da Fundação Konrad Adenauer, ligada à democracia cristã da Alemanha.
Escreve Thesing: ``Com o crescente bem-estar, o egoísmo do indivíduo aumenta muito mais vigorosamente. Entre bem-estar e egoísmo existe uma relação de dependência muito mais forte do que entre bem-estar, bem comum e solidariedade".
Espero que o leitor esteja vivo em 2020 para conferir qual das duas previsões terá se revelado a mais correta.

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