São Paulo, terça-feira, 2 de maio de 1995
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Proibido andar na rua

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - A Folha publicou ontem um número que mostra mais um dos absurdos nacionais: a indústria da violência tira dos empresários US$ 28 bilhões por ano. Comparemos: os governos federal, estaduais e municipais gastam em educação US$ 17,2 bilhões. Gasta-se mais para atacar a violência do que educar toda a população.
Daí se vê como as elites brasileiras estão pagando caro (e muito caro) pela omissão diante da crise social. E, pior, simplesmente não está funcionando.
A indústria do sequestro prospera. O Rio registrou este ano 26 sequestros, batendo recordes. As cidades tornaram-se campos de batalha, em meio a uma sequência aparentemente incontrolável de chacinas. Nunca se viu tanta violência em São Paulo.
A polícia está desaparelhada e muitos de seus integrantes recebem dinheiro do crime organizado. Segundo o estudo de Ib Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas, os empresários pagariam por ano US$ 15 bilhões para manter o aparato de segurança privada. Empregariam cerca de 500 mil vigilantes. Muitos deles, por seus baixos salários, vivem no mesmo espaço do criminoso.
Só de seguros iriam mais US$ 11 bilhões, aponta o estudo. Os investimentos em alarmes, grades, blindagem e pagamento de resgates consumiriam mais US$ 2 bilhões por ano.
Não se estão computando aqui os gastos oficiais. Sabe-se lá, por exemplo, quanto custa por dia a manutenção do Exército nas ruas do Rio?
O fato é o seguinte: quando se gasta mais dinheiro para cuidar da violência do que educação é um sinal eloquente de doença. E doença, vamos ao óbvio, deve ser tratada como doença.
Chegamos ao nível em que devemos enfrentar a violência como se enfrenta um epidemia do tipo Aids ou paralisia infantil -num clima de mutirão cívico.
É uma esforço que deve atingir todas as áreas. Um esforço que vai da geração de renda, manter as crianças nas escolas, até criar novos padrões de convivência -isso significa reeducar as pessoas a administrar conflitos sem apelar para a agressão.
O mais terrível dos impostos que pagamos (e não tem preço) é a proibição de andar na rua sem sentir medo.

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