São Paulo, sexta-feira, 5 de maio de 1995
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Cutucando um tabu

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - O Congresso cutucou um dos mais sólidos tabus nacionais. A batalha vai, agora, ao plenário, depois que, por por 23 votos contra 7, foi aprovado ontem parecer quebrando o monopólio do petróleo.
Aprovada a emenda em plenário -a votação está prevista para este mês-, a Petrobrás passa a conviver com o fantasma da concorrência. O que, óbvio, será um teste permanente à sua alegada eficiência.
E o consumidor passa a conviver com a possibilidade de comprar, no futuro, um combustível mais barato. A curto prazo, gera-se a expectativa de mais investimentos e empregos. Isso, claro, se a regulamentação da emenda não rastejar anos e anos.
Pelo simbolismo da questão do petróleo, envolvido no imaginário das lutas brasileiras por seu desenvolvimento, a quebra do monopólio é o mais cristalino sinal de novos tempos.
Primeiro sinal: o país não se curva ao corporativismo petroleiro, movido mais pelo interesse da casta de burocratas do que do cidadão. Segundo: abrem-se mesmo às fronteiras para o tão cobiçados investimentos estrangeiros.
O besteirol da presumida `` esquerda" é alimentando por chavões do ``integridade territorial", ``soberania nacional", ``espoliação estrangeira" e assim por diante. Aqui existem duas possibilidades: má-fé ou desinformação.
Países como o Vietnã, China e Cuba atraem empresas petrolíferas. E por um motivo simples: não dispõem do capital necessário para investimentos.
Ao cutucar o tabu, o Congresso expressa uma tendência já avançada em vários segmentos da sociedade com reflexos no governo. O monopólio foi criado a partir de uma honesta concepção que, hoje, já não responde aos interesses nacionais.
Estamos enterrando uma forma de se ver o Brasil inserido no mundo -e, mais do que isso, uma forma de encarar o Estado que, em nosso imaginário, deveria ser uma entidade protetora.
Basta andar pelas ruas, com seus meninos de rua e batalhões de marginais, e ver que se existe algo que o Estado não conseguiu foi proteger o cidadão.
Basta andar pelos corredores de uma estatal e ver os privilégios de seus servidores, para se avaliar quem, de fato, ganha com balelas ``progressistas".

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