São Paulo, sexta-feira, 5 de maio de 1995
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O estorvo e o bolo

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - O príncipe dos sociólogos brasileiros admitiu, recentemente, que sua teoria da dependência só era certa pela metade. Ele descobrira os mercados internacionais de consumo, mas ignorara os mercados de produção. Acácio à parte, este seria aproximadamente o núcleo de seu pensamento, do qual partiria para adesão à globalização, à modernidade, ao Estado neoliberal em suma.
D. Aloísio Lorscheider apresentará, na próxima assembléia do Celam, um relatório que mostra como o Brasil marcha para a exclusão social. E exclusão social, citando declarações suas a Fernando Molica, é ``o processo de sofisticação do mercado e da economia que não absorve a mão-de-obra menos especializada, e a ausência de uma política governamental para minorar a pobreza".
E mais: ``A globalização da economia designa a união dos mercados internacionais para venda e produção de mercadorias, com a progressiva eliminação de tarifas ou qualquer restrição à circulação de bens e serviços entre países". Nos últimos dois anos -diz d. Aloísio- cresceram a fome, a miséria e o desemprego no Brasil.
Quando FHC com o seu parceiro italiano lançaram sua teoria da dependência, o conflito era entre os países ricos e pobres. Oriundo de um país pobre, ele parecia estar ao lado dos pobres.
Com a moderna globalização neoliberal, o conflito é agora entre ricos e pobres, ricos transnacionais, pobres idem. E o príncipe ficou ao lado dos ricos, considerando o pobre (principalmente o pobre nacional) um estorvo à eficiência da economia mundial.
Durante o Milagre Brasileiro dos tempos autoritários, os tecnocratas diziam que era necessário primeiro aumentar o bolo para que depois se aumentassem as rações. A idéia do bolo era provinciana, caseira: desde o início da história há ricos e pobres. A obrigação do Estado globalização é garantir a tranquilidade dos que participam dos sistema que produz e consome riquezas. Come quem pode. Quem não pode se sacode.

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