São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
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Livro revela o aprendizado com a solidão total

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Doris Gumbruch, editora de literatura da revista ``New Republic" e crítica literária do ``The New York Times", nunca havia vivido só nos seus 75 anos, exceto em dois curtos períodos.
Depois de se separar do marido, após quase 50 anos de casamento, ela resolveu escolher a solidão antes de ser escolhida por ela.
Com rigor e método, Gumbruch decidiu se manter durante 50 curtos dias e longas noites no inverno inclemente do Estado de Maine, no extremo norte dos Estados Unidos, absolutamente isolada de qualquer contato humano.
Nada de rádio, TV ou jornais. Telefone desconectado. Nenhuma visita. A única saída autopermitida era para a igreja uma vez por semana, mas sem nunca dirigir a palavra a ou ouvir qualquer pessoa além do pastor.
No começo, ela se abrigou em livros, quadros e no registro de observações. Logo, deu-se conta de que tanto uns quanto outro a levavam para fora de si e se determinou que as duas atividades seriam abolidas.
Enfim, ela mergulhou na verdadeira e completa solidão e descobriu, com surpresa e prazer, que era dotada não só de fala, mas de audição e olhar.
Uma das conclusões dos ``50 Dias de Solidão", título do livro que resultou da experiência (Beacon Press, 114 pp, US$ 15,00), é que as pessoas falam apenas o que acham que os outros querem ouvir, não o que pensam.
Grumbuch readquiriu prazeres que as crianças têm e os adultos perdem, como admirar as formas de patinhas de aves em torno da sementeira e atingiu a compreensão que poucos obtêm de que ``a conversa inconsequente, o falatório do rádio e da TV ensurdecem" para o uso próprio da linguagem.
O resultado é um livro enxuto e impecável sobre o quanto se pode aprender com a solidão total.
Uma das lições é que as pessoas têm dentro de si várias camadas, como as que têm de manter sobre seu corpo num inverno rigoroso como o do Maine.
``As camadas superiores da minha pessoa são conhecidas do mundo exterior e exibidas para fins sociais. Mas, perto dos ossos, havia um estrato interior, formado e cultivado na solidão, onde a essência do que eu era, do que sou agora, e talvez do que eu venha a ser até o fim dos meus dias, se oculta e aguarda para ser descoberta pelo silêncio definitivo".

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