São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995 |
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"Fazer 'cyber-sexo' é fogo, faltam palavras", diz usuário
MARIA ERCILIA
Solitário, 22, deu entrevista à Folha na área de ``chat" do BBS Persocom, onde "passeia toda noite -"a partir das 21h15". Programador, mora com os tios, que o obrigam a chegar em casa até as 22h30. "As meninas acham meu `alias' (apelido) triste. Eu acho simpático, diz. De sua identidade, só revela que o sobrenome verdadeiro é "Júnior". "Quero manter o mistério." Solitário discorre sobre as suas aventuras com o "cyber-sexo" (conversas eróticas por computador). "Já tentei uma vez, mas para escrever é fogo. Fui criado de forma rígida, faltam palavras. Mas a menina era fogo, falava de sexo com a maior naturalidade." Houve outra ocasião em que Solitário teve menos sorte ainda. "Desconfiei do `alias'. E realmente não era garota". 21h30. Aumentou o número de usuários que "chateiam" (conversam) em vários canais, com apelidos como "Cigano" e "Lestat". "Já recebi vários `sends' (mensagens privadas)", anuncia Solitário. São os amigos que ele fez no BBS, e que dão boa-noite à medida que acessam o sistema. "Puxa, meu tempo está no fim", constata ele. Precisa passar no ``banco" (de tempo). "Depois deixo uma mensagem para você". O estereótipo popular do usuário das redes tem problemas de relacionamento. Passa horas ao computador conversando com desconhecidos, em busca de sexo, amizade ou qualquer amostra de contato humano. Segundo os frequentadores das redes, o clichê não domina, mas existe. "Agora, que tem muita gente interessada nas redes, aparecem pessoas que só estão afim de companhia", diz Marcos Furquim, 24, estudante de direito, estagiário da Credicard e usuário do Mandic BBS. "Antes era uma coisa de quem gostava de computador". Ele foi um "solitário temporário". "Em novembro minha namorada viajou, comecei a passar mais tempo no BBS. Fiz vários amigos". Marcos "viciou" a namorada. "Às vezes saio da casa dela, e quando chego conversamos pelo computador." Texto Anterior: Livro revela o aprendizado com a solidão total Próximo Texto: Pesquisa aponta risco para quem vive só Índice |
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