São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fornecedores ampliam oferta depois do real

DA SUCURSAL DO RIO

O real levou os produtores bolivianos e peruanos de cocaína a aumentar a oferta da droga a compradores brasileiros, informou à Folha o setor de repressão a entorpecentes do DPF (Departamento de Polícia Federal), sediado em Brasília.
Até a criação do real, em 1º de julho do ano passado, bolivianos e ``matutos" negociavam em dólar, sempre em notas novas e de valores variados.
A valorização do real em relação ao dólar e às moedas do continente mudou essa forma de pagamento. Na última sexta-feira, US$ 1 valia R$ 0,88 (pelo câmbio paralelo). A cocaína continua a ser paga em notas novas, só que de real.
Para atrair compradores que têm real, os produtores da Bolívia e do Peru aumentaram as cotas destinadas aos ``matutos" brasileiros.
A Polícia Federal informa ter identificado essa tendência do mercado, mas ainda não teria conseguido avaliar em quanto a oferta subiu e qual a quantidade de cocaína que entra pela fronteira rumo às cidades brasileiras.
Cada quilo de cocaína pura vendida em Santa Cruz de la Sierra custa ao ``matuto" brasileiro R$ 8.000 (cerca de US$ 9.090, no paralelo) -mais do que o preço de um Fusca, carro ``popular" que custa R$ 7.412,96.
Quando chega à favela, esse quilo quintuplica, pois os traficantes adicionam à droga substâncias brancas que, em forma de pó, se tornam parecidas com a cocaína.
``Matutos" e traficantes têm em São Paulo e Minas Gerais opções mais caras para obter a cocaína.
A vantagem é que não precisam ir tão longe, diminuindo a margem de risco de prisão, apreensão e extorsão por parte de policiais.
Para um emissário do produtor levar a cocaína até o interior de Minas e São Paulo, cobra-se um acréscimo de 50% no valor do quilo.

Rotas
Segundo o DPF, seis cidades paulistas servem a essa rota alternativa: São José do Rio Preto (noroeste do Estado), Ribeirão Preto e Franca (norte), Rio Claro e Campinas (centro) e a capital paulista.
Em Minas Gerais, a região do Triângulo Mineiro, no sul do Estado, costuma ser usada para a entrega de cocaína aos enviados dos traficantes.
As cidades preferidas são Uberaba e Araxá, de acordo com as apurações da DRE (Divisão de Repressão Entorpecentes) da Polícia Civil do Estado do Rio.
O ``matuto" vai até uma dessas cidades para pegar a droga trazida desde a Bolívia por gente a serviço do produtor.
A droga sai mais cara, mas a segurança é maior, pois o ``matuto" deixa de ``disputar a cana" (correr o risco de ser preso, conforme o jargão criminal) em metade do trajeto.

Texto Anterior: 'Matuto' considera o trabalho fácil
Próximo Texto: Elaine, 18, se apaixona por sequestrador
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.