São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Elaine, 18, se apaixona por sequestrador

MÔNICA GARDENAL
DA FOLHA NORTE

O sequestro da empregada doméstica Elaine Cristina Silvério, 18, pelo desempregado Aílton Ferreira dos Santos, 21, no mês passado, foi para a polícia de Rio Preto ``uma aventura romântica".
A história de amor começou no Chope House, em São José do Rio Preto (451 km a noroeste de São Paulo), na noite de 9 de abril.
Elaine estava conversando com um amigo em uma caminhonete em frente ao bar. Santos aproximou-se, com um revólver, e roubou o carro, levando o casal junto.
Depois de percorrer 20 quilômetros, o sequestrador deixou o rapaz em Cedral (425 km de SP) e seguiu em direção a São Paulo.
Segundo Elaine, eles viajaram mais 400 quilômetros ``conversando sobre a vida".
Chegaram a São Paulo de madrugada. À luz do dia, Elaine descobriu que o assaltante ``não era bonito nem feio". ``Se fosse em outra situação, acho que teria gostado dele", conta.
Os dois passearam pela cidade. Ele corria muito e bebia o tempo todo.
À tarde, tentou beijá-la, mas Elaine desviou. Empurrou Santos, com medo. ``Eu perguntava o que ele ia fazer comigo. Ele pedia para eu confiar nele. E eu confiava", conta Elaine.
Santos pediu dinheiro emprestado a amigos e os dois acabaram em um motel. ``Fizemos sexo três vezes: na hora que chegamos, na madrugada e ao amanhecer", conta ela (leia depoimento ao lado).
Foram três noites juntos, sempre em ``lugares de luxo". Durante o dia, passeavam de caminhonete por São Paulo e Campinas.
Tomaram cerveja em barzinhos e visitaram amigos de Santos. Elaine era apresentada como ``namorada".
A aventura terminou também em Rio Preto. Santos deixou Elaine em casa e pediu que não descrevesse seu rosto à polícia.

Prisão
Na delegacia, ela acabou contando a verdade. A polícia encontrou um cartão com o nome de Santos e chegou à casa de sua mãe. O assaltante acabou preso no último dia 19.
O delegado José Duarte Dias, 52, acredita que Elaine ficou assustada no início, mas ``depois de 450 km muita coisa acontece". ``Foi uma aventura para ela, um romance inesperado", afirma.
Segundo o delegado, amigos do assaltante foram interrogados pela polícia de São Paulo e disseram que o ``agarramento" de Elaine e Santos ``dava nos nervos".
``Ele sabia até onde ela morava, o nome de seus parentes. Coisas sobre a vida dela", diz Dias.
O delegado acredita que Elaine poderia ter fugido ``quando quisesse". ``Ela ficou várias vezes sozinha, tanto na caminhonete quanto no motel."
Preso, Santos acha que seu relacionamento com Elaine foi ``muito bonito". ``Ela foi uma das mulheres que mais gostei até hoje. É linda e sempre foi muito meiga."
Ele também acredita que Elaine ficou com ele porque quis. ``Ela não foi embora porque queria ficar comigo. Depois que transávamos, eu dormia como uma pedra, nada me acordaria."
O assaltante lamenta que o relacionamento tenha durado ``tão pouco". ``A gente poderia ter ficado mais na aventura, mas eu tinha outras coisas para tratar", afirma.
Elaine nunca foi visitar Santos na prisão.

Texto Anterior: Fornecedores ampliam oferta depois do real
Próximo Texto: DEPOIMENTO
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.