São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
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A nova ordem monetária

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

Tratamos na última semana das tensões existentes no G-7 pela queda do dólar frente ao iene e ao marco, e como a necessidade de novas regras para a ordem monetária internacional é mais reconhecida hoje. Vamos considerar as mudanças em formação.
Na atual ordem monetária, o dólar é a moeda de reserva internacional, mas é emitida pelo banco central de um país, cuja preocupação principal é com seus problemas domésticos.
Este arranjo permite que medidas diferentes das que seriam recomendadas para o equilíbrio internacional sejam adotadas pelo banco emissor da moeda-reserva, pois trazem menor peso para a economia doméstica americana.
A mudança para uma nova ordem monetária é algo que ainda deverá esperar alguns anos. Mas a saída mais provável, sobre a qual já existem estudos quanto à operacionalidade, envolverá um novo acordo internacional, nos moldes de Bretton Woods, com a criação de uma moeda de reserva fiduciária e taxas de câmbio fixas (ou mais fixas).
Dado o desenvolvimento das comunicações e das finanças modernas, esta nova moeda não terá por base uma mercadoria, como o ouro. Seu caráter fiduciário será reforçado mas sua emissão será controlada por um órgão supranacional. Ninguém vai conceder novamente o privilégio da emissão para uma única moeda nacional.
Tal tipo de concessão só vigora quando há uma única potência hegemônica incontestável. Não é este o cenário atual.
O órgão emissor pode vir a ser o FMI, mas isto é pouco provável. Mais provável é a formação de um organismo emissor dirigido por um comitê monetário reunindo os ministros da Fazenda dos quatro ou cinco países de moedas mais influentes.
Para que um novo acordo monetário com taxas de câmbio mais fixas avance, será preciso desestimular os fluxos de capital de curto prazo, aumentando o espaço para o capital dos investimentos diretos. Existe consciência disto, mas muitas dificuldades para promover tal mudança.
Possivelmente, o maior controle de capitais de curto prazo irá requerer alguma crise no centro do sistema para fazer a roda começar a se mover. Até lá, os fluxos de curto prazo seguirão aumentando (continuando a causar a dança das taxas de câmbio entre o dólar, o marco, o iene e das moedas relacionadas a cada um deles).
Pouca gente no Brasil vem acompanhando estes desdobramentos estratégicos. Temos o professor Kafka lá em Washington, Delfim aqui de São Paulo e mais dois ou três na academia. Os temas desta enquadratura têm escapado do Planalto.
Mas os termos do debate têm importância para o país. Se for feito um acordo para um sistema mais rígido de taxas de câmbio fixas, isto condiciona a política monetária dos países signatários.
Restrições quanto à condução da política monetária talvez fossem boas para nós, dado nosso histórico de inflação. Mas enfrentaremos limitações quanto a algumas alternativas de desenvolvimento. Isto porque o financiamento público líquido fica limitado à possibilidade de colocar dívida pública junto ao mercado. Igualmente, o financiamento internacional sofrerá uma readequação.
O fato é que a nova ordem em formação irá nos afetar e precisamos atentar para o que se discute para entender suas implicações sobre nossos projetos nacionais.
Mas qual é nosso projeto nacional?

Hoje excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna Eduardo Gianetti

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