São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
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Colapso mexicano passa longe da economia chilena

JOSÉ ROBERTO CAMPOS
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO

A turbulência causada pela crise mexicana arrastou as economias do Brasil e Argentina, mas passou longe do Chile. Na semana passada, o governo chileno festejava ao contabilizar números que falam por si só.
No primeiro trimestre do ano, quando os capitais internacionais batiam em retirada das maiores economias do Cone Sul, os investimentos externos no país cresceram 16% e foram a US$ 1 bilhão.
As razões da preferências são claras. A pequena economia chilena, que produz US$ 39 bilhões (Produto Interno Bruto em 94, mais de dez vezes menor que o brasileiro), apresentará em 95 seu décimo ano consecutivo de crescimento. A inflação mais alta no período não ultrapassou 26%. Foi de 8,9% em 94 e hoje corre a um ritmo de 8% ao ano.
As exportações continuam aumentando e devem levar o país a obter um saldo positivo em sua balança de pagamentos (transações do Chile com o exterior).
O país, sob a ferrenha ditadura do general Pinochet, iniciou um vasto programa de privatização, que está sendo complementado -e criticado- pelo governo de Eduardo Frei. Uma reforma previdenciária que entregou o combalido sistema estatal para as empresas privadas há 14 anos jogou a taxa de investimentos a níveis similares aos dos ``tigres" asiáticos.
``Os fundos de pensão foram um dos pilares da estratégia de crescimento do país", afirma Alvaro García, ministro da Economia, Fomento e Reconstrução. ``A taxa de poupança interna subiu de 15% para 26%". Uma massa de dinheiro estimada em US$ 22 bilhões, que cresce a cada ano, dinamizou o mercado de capitais e os investimentos no país.
Os capitais externos acorreram a uma economia cada vez mais aberta a investimentos e fechada a aplicações especulativas. O terremoto financeiro mexicano não provocou a fuga do chamado ``smart money" simplesmente porque ele havia sido antes desaconselhado a pousar no Chile. ``90% do dinheiro que entra no país é de longo prazo", constata García. Ao criar um depósito compulsório de 30% sobre dinheiro especulativo internacional, o país praticamente eliminou as chances de captura de grandes e rápidos rendimentos.
Apesar do contínuo crescimento, o Chile abriga na pobreza um terço de seus 13,8 milhões de habitantes. O nível de emprego tem subido mas em ritmo ainda não suficiente para atender ao aumento das novas gerações que procuram trabalho. 5,4% dos 5,3 milhões de trabalhadores não têm trabalho.
``40% dos gastos sociais são dirigidos às faixas mais pobres da população", conta García. ``A distribuição de renda está melhorando e estamos na direção certa". O ministro, junto com empresários chilenos, visita o Brasil amanhã à procura de oportunidades de negócios e laços comerciais mais firmes para seu ingresso no Mercosul. No texto abaixo, os principais trechos da entrevista que García concedeu à Folha em Santiago

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