São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
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"Chile cresce porque poupa e investe"

``Chile cresce porque poupa e investe"
Folha - Quais os efeitos da crise mexicana sobre a economia chilena?
Alvaro García - Poucos. A crise mexicana e a desvalorização do dólar fizeram cair a Bolsa chilena em janeiro e fevereiro, mas em março e abril ela se recuperou. Houve uma queda bastante significativa na captação de ADRs (títulos de empresas chilenas lançados no exterior) na Bolsa de Nova York, mas que foi mais que compensada com um alto incremento dos investimentos externos diretos no Chile.
Folha - Por que o Chile não foi atingido? Vários economistas apontam como motivo o fato de o Chile restringir a entrada de capitais de curto prazo.
García - Este é apenas um dos fatores. Não é atrativo para um investidor estrangeiro aplicar dinheiro por pouco tempo no Chile.
Folha - Mas quais são as restrições?
García - Há só uma. O capital de curto prazo tem de fazer um depósito compulsório de 30% se for permanecer no país por menos de um ano.
O fundamental é que a crise mexicana foi produzida não pelos capitais de curto prazo mas pelo seu forte déficit fiscal e pelo alto déficit comercial. Nada disto ocorre no Chile.
Folha - O fato de o país ter privatizado a maior parte de suas empresas contribuiu para isto?
García - Sim, não há setores 100% estatais. O setor onde há maior presença, quase 100%, é o de saneamento, que logo será aberto ao setor privado. Outro setor é o portuário, mas há vários portos privados e há a decisão de que os futuros investimentos nos portos estatais serão feitos pela iniciativa privada.
Folha - A Codelco (produtora de cobre) não é 100% estatal?
García - Sim, mas representa hoje menos da metade da produção total de cobre do país.
Folha - Não há oposição política a este programa?
García - Houve enormes divergências sobre este programa. Na sua grande maioria, as privatizações ocorreram durante o governo militar. Temos grandes reservas sobre a forma como foram feitas. Não sobre sobre a necessidade de fazê-las. Comprovamos que foi um fator de eficiência, de melhoria da qualidade dos serviços e sem aumento de preços.
Folha - Quais são as objeções?
García - Temos reservas fundamentalmente em duas áreas: a oportunidade e a forma como as empresas estatais foram vendidas. Não se maximizou a receita pública como se poderia e, segundo, em geral não se tomaram as suficientes precauções regulatórias para impedir que se formasse um monopólio privado que exercesse seu poder em detrimento dos consumidores.
Folha - Isto quer dizer também que os serviços fornecidos pelas empresas privadas não foram tão bons quanto os esperados?
García - Estamos satisfeitos com o que ocorreu com as empresas privatizadas. Elas fizeram investimentos significativos, melhoraram a cobertura e a qualidade de serviços e as tarifas praticamente não subiram. Neste sentido, a privatização foi um acerto.
Folha - Quais foram os resultados da privatização da Previdência Social?
García - O Chile conseguiu crescer rapidamente porque poupa e investe muito. Boa parte do aumento da poupança se deve aos fundos de pensões. O país tinha uma taxa média de poupança de 15% e estabilizou-se hoje em torno de 26%.
Folha - Como será o desempenho da economia chilena este ano?
García - Será um ano de crescimento. As exportações aumentaram 60% em valor no primeiro trimestre sobre o primeiro trimestre de 94, que não deve se manter. De qualquer forma, haverá um aumento significativo de exportações. Podemos chegar a US$ 14 bilhões a US$ 15 bilhões, contra US$ 11 bilhões de 94. Esperamos um importante superávit na balança de pagamentos e na comercial também, inflação ao redor de 8%, talvez mais baixa, desemprego entre 5 e 5,5% e crescimento ligeiramente superior aos 6%.
Folha - A indexação subsiste no Chile e este é tido como um de seus pontos frágeis.
García - Se a indexação impediu uma redução suplementar e forte da inflação ela também foi um fator crucial para desenvolver nosso mercado de capitais. Sem a economia indexada, com as taxas de inflação que tivemos no passado, seria impossível alcançar e desenvolver este mercado no nível que alcançamos. Evidentemente, se queremos chegar a uma taxa de inflação de 2 a 3% anuais, temos que pensar em desindexar a economia. Felizmente, isto já começou a ocorrer e é um resultado natural da diminuição da taxa de inflação. Aproximadamente 50% dos ativos financeiros se negociam em termos nominais, contra 100% antes. Tivemos durante quatro anos consecutivos acordos com os trabalhadores e empresários para fixar o único salário que se fixa no país, o mínimo, de acordo com a inflação futura, o que é um importante passo para a desindexação.
Folha - Por que a distribuição de renda não melhorou após vários anos de crescimento?
García - O primeiro esforço redistributivo de renda do governo democrático se fez pela área fiscal, uma reforma tributária que aumentou a arrecadação em 2% a 3% do PIB, com uma forte elevação nos gastos sociais, de 40%, reais.
Folha - Qual o estágio das negociações do Chile para entrar no Nafta e no Mercosul?
García - Iniciamos conversações técnicas sobre o Nafta e em junho teremos as primeiras reuniões políticas a nível ministerial, para definir um calendário de adesão. No caso do Mercosul, tivemos uma grande quantidade de reuniões (sete) e estamos prontos para trocar as primeiras listas de produtos sensíveis ou exceções para se fechar um acordo comercial.

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